promo_banner

Реклама

Читать книгу: «Para Sempre e Um Dia », страница 2

Шрифт:

Roy estremeceu ao ouvir essa palavra. Emily notou o quanto ele se sentiu mal por ser confrontado com a dor pela qual tinha feito a filha passar. Mas ele precisava ouvir isso. E ela precisava dizer. Era a única forma deles poderem seguir em frente.

“Eu não vendi nenhuma das minhas antiguidades, se é isso que você quer dizer”, ele começou. “Deixei tudo isso para você.”

“Eu deveria agradecer?” Emily perguntou amargamente. “Um diamante não pode compensar anos de abandono”.

Roy assentiu com tristeza, absorvendo o peso de suas palavras furiosas. Emily começou a aceitar que ele estava reconhecendo a postura dela, que o pai não estava mais tentando explicar suas ações, mas preferindo ouvir a dor que elas lhe causaram.

“Você está certa”, ele disse baixinho. “Não foi o que quis dizer”. Emily ficou tensa. “Bem, continue”, ela disse. “Diga-me o que aconteceu depois que você foi embora. Como se sustentou?”

“No começo, eu vivia um dia de cada vez”, explicou Roy. “Ganhei dinheiro fazendo tudo que podia. Bicos. Reparos de automóveis e bicicletas. Pequenos consertos. Eu me encontrei fazendo e consertando relógios. Ainda faço isso. Sou um horologista. Faço relógios ornamentados com chaves escondidas e compartimentos secretos”.

“Claro que faz”, disse Emily, amargamente.

O olhar de vergonha voltou ao rosto de Roy.

“E quanto ao amor?” Emily perguntou. “Você já se resolveu?”

“Eu moro sozinho”, Roy respondeu com tristeza. “Vivo assim desde que fui embora. Eu não queria causar mais dor a ninguém. Não suportaria estar cercado de pessoas.”

Pela primeira vez, Emily começou a sentir empatia por seu pai, imaginando-o solitário, vivendo como um eremita. Parecia já ter liberado toda a dor que precisava, sentia que já o havia culpado o bastante para finalmente ser capaz de ouvir sua história. Uma onda catártica tomou conta dela.

“É por isso que eu não acesso nenhuma tecnologia moderna”, continuou Roy.

“Há uma cabine telefônica na cidade que uso para fazer minhas ligações, que são poucas e esporádicas. O correio local me avisa se alguém respondeu ao meu anúncio de horologista. Quando me sinto forte o suficiente, vou até a biblioteca e verifico meus e-mails para ver se você entrou em contato.”

Emily franziu o cenho. A última frase a surpreendeu. “Sério?”

Roy assentiu. “Tenho deixado pistas para você, Emily Jane. Toda vez que voltava para casa, deixava outra migalha para você encontrar. O endereço de e-mail foi o maior passo que dei, porque eu sabia que assim que você o encontrasse, ele forneceria uma linha direta entre nós”.

Emily percebeu então que essa era a razão para aqueles meses a mais de angústia pelos quais passou depois que soube que o pai ainda estava vivo e entrou em contato com ele. Seu pai não estava ignorando-a ou evitando-a, ele simplesmente não tinha visto o e-mail.

“Verdade?” ela perguntou com voz tensa, enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas. “Você realmente veio aqui assim que viu que eu tinha entrado em contato?”

“Sim”, respondeu Roy, quase num sussurro. Suas próprias lágrimas começaram a cair novamente. “Eu tenho esperado e desejado e sonhado que você entrasse em contato. Imaginei que um dia você voltaria a este lugar, quando estivesse pronta. Mas eu também sabia que você estaria com raiva de mim. Eu queria que o primeiro passo fosse seu. Queria que você fizesse contato comigo porque eu não queria me intrometer em sua vida. Se você tivesse seguido em frente sem mim, eu achava que seria melhor deixar como estava”.

“Ah, pai”, Emily falou, com a voz embargada.

Algo finalmente foi liberado dentro de Emily. Esta última confissão de seu pai era o que ela precisava saber o tempo todo. Que ele estava esperando por ela para entrar em contato. Ele não estava evitando-a, se escondendo, ele tinha deixado pistas, migalhas, confiando que assim que ela reunisse todas as peças daquele quebra-cabeça, tomaria sua própria decisão sobre perdoá-lo ou não e permitir que ele voltasse para a sua vida.

Ela se levantou para abraçá-lo. Soluçou contra o ombro do pai, soluços profundos que sacudiam seu corpo. Roy a abraçou forte, tremendo também, com imensa tristeza.

“Me desculpe”, ele falou, com a voz abafada pelo cabelo dela. “Eu sinto muito, mesmo”.

Ficaram assim por muito tempo, abraçados, derramando cada lágrima que precisavam, espremendo até a última gota de dor. Por fim, o choro cessou. Veio o silêncio. “Você quer me perguntar mais alguma coisa?” Roy finalmente falou baixinho. “Eu não vou mais guardar segredos. Não esconderei nada”.

Emily se sentiu exausta de tanta emoção. Sentia o peito de seu pai subir e descer a cada respiração profunda que ele tomava. Ela estava tão cansada que podia adormecer ali mesmo em seus braços. Mas, ao mesmo tempo, ainda tinha um milhão de perguntas importunando sua mente, mas uma mais que todas as outras. “Sobre a noite em que Charlotte morreu ...” ela começou. “Mamãe me contou algumas coisas, mas ela só me deu um lado da história. O que aconteceu?”

Os braços de Roy se apertaram ao redor dela. Emily sabia que era difícil para ele se lembrar daquela noite, mas ela queria desesperadamente saber a verdade, ou pelo menos a versão dele. Talvez fosse capaz de juntar as três partes – a de Patrícia, a de Roy, a sua – e criar algo que fizesse sentido.

“Eu havia trazido vocês para passar o Dia de Ação de Graças e o Natal aqui. As coisas não estavam indo bem com sua mãe, então ela ficou em casa. Mas aí vocês duas pegaram uma gripe.

“Acho que me lembro”, disse Emily. Ela se lembrou de quando teve febre. “O cachorro de Toni, Perséfone, estava lá. Eu desmaiei no corredor”.

Roy assentiu, mas parecia envergonhado. Emily sabia o porquê; esse tinha sido um ponto decisivo em seu caso com Toni, o ponto em que ele tinha sido descarado a ponto de fazer com que a vida de sua amante e de suas filhas se cruzassem.

“Você se lembra de sua mãe aparecer sem avisar?”, Disse Roy.

Emily sacudiu a cabeça.

“Ela veio cuidar de você, já que você estava muito doente”.

“A mamãe nunca foi disso”, disse Emily.

Roy riu. “Não, é verdade. Talvez fosse uma desculpa. Ela suspeitava que eu estava tendo um caso e foi a maneira que encontrou de vir sem avisar e me pegar no flagra”.

Emily assentiu levemente. Esse era mais o estilo da sua mãe.

“Sua memória deve ter bloqueado a discussão, porque eu tenho certeza que nós gritamos tão alto que podíamos ser ouvidos até no porto”. Ele deu de ombros. “Eu não sei se foi isso que acordou Charlotte. Ela estava tomando um remédio que a deixava tonta. Vocês duas estavam. Mas ela acordou e eu suponho que tenha ficado confusa nos procurando, ou estava apenas se sentindo mal e sob efeito da medicação. Acabou indo para o prédio anexo, onde estava a piscina. Suponho que você já saiba do resto”.

Emily sabia. Mas não tinha percebido como seu papel havia sido pequeno naquilo tudo. Ela não tinha culpa por não ter acordado quando Charlotte despertou, e não tinha culpa por não ter impedido a irmã de vagar sem rumo. Também não era culpada por falar sobre a nova piscina com tanto entusiasmo e por plantar na mente de sua irmã a curiosidade de vê-la. Ela estava doente, confusa, possivelmente até aterrorizada com a briga de seus pais. Nada disso tinha sido sua culpa. Nem um pouco.

Emily sentiu uma repentina sensação de alívio. Peso que ela nem tinha percebido que carregava sobre os ombros. Havia se apegado à culpa pela morte de Charlotte, mesmo depois de sua mãe ter esclarecido que ela não era culpada. Agora sentia como se seu pai tivesse lhe dado permissão para abandonar esse pesar.

Ela se aconchegou nele, sentindo uma nova sensação de paz.

Nesse momento, a quietude foi interrompida pelo som de leves batidas na porta. Daniel apareceu, tímido.

“Daniel, entre” disse Emily, chamando-o. Ela o queria perto, agora que ela e seu pai tinham colocado tudo para fora. Precisava do seu apoio.

Ele veio e se sentou na beira do sofá em frente a eles. Emily enxugou as lágrimas, mas continuou agarrada ao pai, encolhida como uma criança ao lado dele no sofá.

“Alguém precisa de alguma coisa?” Daniel perguntou suavemente. “Um lenço? Uma bebida forte?” Era exatamente o que o momento precisava para cortar a atmosfera pesada. Emily soltou uma risada. Ela sentiu a barriga de Roy reverberar com uma risada também.

“Eu aceito uma bebida”, disse ela. “Eu também aceito”, respondeu Roy. “O bar está abastecido?”

Daniel assumiu a liderança. "Está. Vamos. Lá é fantástico. Eu vou fazer alguns drinques pra gente.

Emily hesitou. “Pai, acha que é uma boa ideia?”

“Por que não seria?” Roy replicou, confuso.

Emily baixou a voz. “Por causa de seu problema com a bebida”.

Roy pareceu surpreso. “Que problema?” Então, seu rosto ficou pálido. “Patricia te falou que eu era um alcoólatra?”

“Você era um alcoólatra”, Emily respondeu. “Eu me lembro de você bebendo. O tempo todo.”

“Eu bebia muito”, admitiu Roy. “Nós dois bebíamos, sua mãe e eu. Essa era uma das razões pelas quais nosso relacionamento era tão volátil. Mas eu não era alcoólatra.”

“E quanto às gemadas que você tomava no café da manhã, no Natal?”, ela perguntou, lembrando-se de como seu pai tinha ficado irritado quando ela derrubou sua bebida.

“Isso era só no Natal!” exclamou Roy.

Outra parte do passado de Emily se refez. Ela foi enganada pela versão amarga e distorcida dos eventos dada por Patrícia, que obscureceu suas próprias lembranças do pai. Sentiu uma onda de fúria por sua mãe ter transformado Roy no vilão da experiência mais traumática de sua vida.

Entraram no bar secreto e se sentaram. Daniel começou a trabalhar nos coquetéis.

“Temos nosso próprio barman, que trabalha à noite”, explicou ele a Roy. “Alec. Ele é fantástico. Pelo menos, melhor que eu”.

Ele serviu uma margarita para cada. Roy tomou um gole.

“Está incrível”, disse ele. Então, um pouco tímido, acrescentou: “Você se tornou um jovem bom e educado”.

Emily sentiu o coração disparar. Ela sorriu, exultante finalmente, sentindo que tudo estava perfeito.

“Agradeço a você por isso”, respondeu Daniel, timidamente, sem olhar nos olhos de Roy. “Por me ensinar coisas que eu gostava. Pescaria. Vela”.

“Você ainda navega?”, perguntou Roy.

“Eu tenho um barco no porto. Restaurado graças a Emily. Gostamos de passear juntos de barco. Chantelle adora. Ela pesca muito bem”.

“Eu ainda navego muito também”, disse Roy. “Quando não estou trabalhando em um relógio, passo meu tempo no barco. Ou no jardim”.

“Você se lembra daquele dia em que me ensinou a cultivar uma horta?”, Perguntou Daniel.

“É claro”, respondeu Roy. Ele sorriu, relembrando. “Eu nunca vi um jovem tão rebelde e desleixado trabalhar tanto com uma pá”.

Daniel riu. “Eu estava ansioso por aprender”, disse ele. “Aproveitar a oportunidade. Mesmo que por fora parecesse que eu odiava o mundo”.

Emily achou estranho vê-los brincando e rindo. Havia muito menos mágoa entre os dois. Pareciam amigos. Daniel era eternamente grato pelo homem que lhe deu uma chance quando ele mais precisava, ainda que o mesmo homem tivesse desaparecido para ele também. Talvez tenha sido uma surpresa para Emily perceber o quão próximos eles já foram, sabendo, também, que o verão que passaram juntos fora um verão em que ela e o pai tinham passado separados.

O telefone dela tocou e ela viu uma mensagem de Amy, sobre a hora em que chegariam naquela tarde. Ela e Jayne tinham alguns negócios urgentes para resolver antes de ir, então chegariam mais tarde do que o planejado. Emily se sentiu culpada por ter esquecido completamente que as amigas estavam a caminho. Ficou tão envolvida com o pai que tudo o mais sumiu de sua mente.

Ela mandou uma mensagem de volta e depois voltou sua atenção para seu pai e Daniel. Eles estavam rindo mais uma vez, despreocupados.

“Estou tão feliz que o barco conseguiu suportar”, Daniel estava falando. “Quem diria que o tempo ficaria assim? Uma tempestade no meio do verão.”

“Foi falta de sorte” respondeu Roy. “Considerando que era o seu primeiro passeio de barco.”

“Bem, eu tive o melhor professor, então não estava com tanto medo.” Ele sorriu, seus olhos mergulhados na lembrança. “Obrigado por me ensinar sobre os barcos, a água e a vela. Eu não posso imaginar minha vida sem eles agora.”

Emily assistia enquanto Roy sorria junto com Daniel. Agora que havia liberado sua raiva, sentia uma enorme sensação de paz, de clareza. Deveria ter sido sempre assim. Seu pai conversando com seu noivo, desfrutando da companhia um do outro, ansioso para logo se tornar parte da mesma família.

Pode ter demorado um pouco, mas ela faria todo o possível para aproveitar essa nova fase.

*

Enquanto a noite avançava, Daniel fez outra rodada de coquetéis. Ele colocou um copo na frente de Emily, no momento em que seu telefone tocou.

“É Amy. Melhor eu atender”, disse ela.

“Amy? Do colégio?” perguntou Roy, levantando uma sobrancelha.

Emily assentiu. “Ainda somos amigas”, informou a ele. “Ela é minha dama de honra. Está ajudando muito com preparativos para o casamento”.

Emily saiu do bar para atender a ligação.

“Amiga, desculpe”, Amy começou. “A ligação demorou séculos e agora estamos exaustas demais para dirigir. Vamos ter que passar a noite aqui. Não nos odeie”.

“Tudo bem”, Emily disse, secretamente aliviada por suas amigas não interromperem o reencontro com seu pai.

“Vamos sair logo de manhã”, Amy acrescentou.

“Sinceramente, Amy, tudo bem”, “De todo modo, surgiram algumas novidades por aqui”.

“Que novidades? Sobre o casamento? Daniel? Sheila?” ela parecia preocupada.

“Não é nada disso”, explicou Emily. Então ela respirou fundo. “Amy, meu pai voltou”.

Houve um silêncio prolongado. “O quê? Como? Você está bem?”

Emily não sabia como responder, e realmente não queria entrar entrar em detalhes agora. Ainda não tinha absorvido tudo completamente. Precisava de tempo para “desembaraçar” suas emoções e compreender tudo.

“Estou bem. Falamos sobre isso quando vocês chegarem aqui.”

Amy não parecia convencida. “Ok. Mas se precisar de alguém para conversar, me ligue imediatamente. Te vejo amanhã.”

Emily terminou a ligação e voltou para o bar, para o riso alegre de Roy e Daniel. Velhos amigos do peito juntos novamente.

“Bem”, disse Roy, bebendo o resto do drinque. “Acho que é hora de eu dar o fora. Parece que você tem hóspedes para atender”.

Emily sentiu pânico ao pensar em Roy indo embora. “Eu tenho funcionários, eles estão cuidando de tudo. É bom para nós passarmos tempo juntos. Você não precisa ir.”

Roy notou que ela parecia apavorada. “Eu só quis dizer que talvez seja hora de me deitar. Dormir.”

“Quer dizer que vai ficar?” Emily disse, surpresa. “Aqui?”

“Se você tiver espaço.” Roy disse humildemente. “Eu não quero incomodar”.

“Claro que tem!” Emily exclamou. “Quanto tempo você planeja ficar?”

“Até o casamento, se não for um problema. Eu poderia ajudar um pouco com os preparativos, se necessário”.

Emily ficou surpresa. Não só seu pai estava aqui, como até estava planejando ficar por mais de uma semana! Realmente foi um sonho tornado realidade.

“Isso seria maravilhoso”, disse ela.

Subiram e instalaram Roy no quarto ao lado do escritório. Emily sabia que ele iria querer entrar lá em algum momento, provavelmente sozinho.

“Este quarto está bom?” ela perguntou. “Ah, sim. É muito bonito”, respondeu Roy.” Ao lado da minha escada secreta.”

Emily franziu a testa. “Sua o quê?”

“Não me diga que você não a encontrou”, disse Roy. Havia um brilho travesso em seus olhos, revelando seu flerte com a loucura, a espiral descendente que havia transformado sua natureza brincalhona, que gostava de mapas do tesouro, em um sigilo sombrio e cofres fechados com combinações ocultas.

“Você quer dizer a escada até a plataforma do telhado?” Emily perguntou. “Encontrei essa. Mas fica no terceiro andar”.

Então, Roy bateu palmas, subitamente entusiasmado. “Você nunca achou! A escada dos criados”.

Emily balançou a cabeça. “Mas eu vi as plantas da casa inteira. Seu bar secreto era o último cômodo escondido daqui”.

“Se algo está na planta, não está escondido!” exclamou Roy.

“Mostre-nos”, disse Daniel. Ele parecia animado, como quando o bar foi descoberto.

Roy levou-os ao seu escritório. “Você nunca se perguntou por que havia uma chaminé nessa parede?” Ele bateu, revelando um som oco. “Todas as outras chaminés ficam nas paredes externas. Esta é interna.”

“Nunca passou pela minha cabeça”, disse Emily.

“Bem, está aqui atrás”, disse Roy. “Se você não se importa, poderia me ajudar aqui, Daniel?”

Daniel prontamente obedeceu. Eles removeram o que Emily agora via ser uma parede falsa, forrada com papel de parede para se misturar ao resto da sala. E lá estava. Uma escada. Simples, não particularmente bonita de se ver, mas capaz de entusiasmá-los apenas por existir.

“Eu não posso acreditar”, disse Emily, entrando. “Foi por isso que você escolheu este cômodo como seu escritório?”

“É claro”, respondeu Roy. “As escadas eram um atalho para os criados chegarem aos dormitórios sem serem vistos pelas pessoas da casa. Só vai daqui para o porão, onde os empregados dormiam antigamente.”

“E esta é a única maneira de entrar”, Emily afirmou, percebendo agora por que ela não tinha encontrado. O porão ainda continha cômodos inexplorados por ela, e o escritório de seu pai era o lugar no qual menos mexeu.

Roy assentiu. “Surpresa.”

Emily riu e sacudiu a cabeça. “Tantos segredos”.

Eles saíram do escritório e Roy entrou em seu quarto. Emily foi fechar a porta atrás dele, mas ele pegou sua mão e deu-lhe um beijo de boa noite.

Emily parou, atordoada. Seu pai não a beijava há anos, mesmo antes de ter saído de sua vida.

“Boa noite, pai”, ela disse apressadamente.

Fechou a porta e correu para seu quarto. Uma vez em segurança, Daniel imediatamente a envolveu em um abraço muito necessário.

“Como você está aguentando?” ele perguntou suavemente, gentilmente balançando-a em seus braços.

“Eu não posso acreditar que ele está aqui”, gaguejou. “Continuo pensando que isso é um sonho.”

“Sobre o que vocês conversaram?”

“Sobre tudo. Quer dizer, eu sei que ainda estou processando as coisas, mas foi catártico. Sinto que podemos esquecer toda a dor do passado e começar de novo.”

“Então essas são lágrimas molhando meu ombro são de alegria?” Daniel brincou.

Emily recuou e riu da mancha escura na camiseta de Daniel. “Opa, desculpa”, disse ela. Nem tinha percebido que estava chorando.

Daniel a beijou levemente. “Não precisa se desculpar. Entendo que isso vai ser difícil. Se precisar chorar, rir, gritar ou qualquer outra coisa, estou aqui. Ok?”

Emily assentiu, muito grata por ter um ser tão lindo em sua vida. E agora, com o seu pai, sentia que tudo estava realmente se encaixando. Finalmente, depois de tantos anos vivendo uma vida insatisfatória, sentia que agora teria a vida que merecia.

Faltava apenas uma semana para o casamento. E, pela primeira vez, com todos que ela amava à sua volta, sentiu-se realmente pronta.

Chegou a hora de se casar.

CAPÍTULO DOIS

Na manhã seguinte, Emily acordou mais cedo que o habitual, sentindo-se exultante. Desceu as escadas para fazer o café da manhã e preparou um banquete com ovos, torradas, bacon e panquecas, cantarolando alegremente o tempo todo. Daniel desceu com Chantelle um pouco mais tarde. À medida que o tempo passava, ela olhava para o relógio e foi ficando preocupada por seu pai ainda não ter aparecido.

“Por que você não bate na porta dele?” sugeriu Daniel, percebendo as razões por trás dos seus olhares furtivos para o relógio.

“Não quero incomodá-lo”, respondeu Emily.

“Eu faço isso”, disse Chantelle, saltando da cadeira.

Emily sacudiu a cabeça. “Não, continue seu café. Eu vou.”

Ela não tinha certeza por que estava tão preocupada em perturbar o pai. Talvez fosse o medo mesquinho no fundo de sua mente dizendo que ele não estaria lá quando ela batesse, que tudo se revelaria ser um sonho, no final das contas.

Aproximou-se do quarto com cautela e pigarreou, sentindo-se boba. Então, bateu na porta.

“Pai, eu fiz o café da manhã. Você está pronto para descer?”

Como não houve resposta, ela sentiu sua primeira onda de pânico. Mas tentou se acalmar. Roy poderia muito bem estar no chuveiro, sem ouvi-la.

Testou a maçaneta e encontrou-a destrancada. Abriu a porta e olhou para dentro do quarto. A cama estava vazia, mas não havia nenhum som de água corrente vindo da porta aberta da suíte, nenhum sinal de Roy.

Emily imediatamente desistiu de tentar conter seu medo, que a inundou de repente. Será que forçou muito a barra ontem à noite? Será que ele se sentiu desconfortável demais para ficar?

Saiu correndo do quarto e pelo corredor, e então desceu voando pelas escadas até chegar na cozinha. Ver o olhar assustado de Chantelle, que piscava para ela da mesa de café da manhã, foi a única coisa que a impediu de gritar por Daniel. Preferiu parar e se recompor.

“Daniel, você poderia me ajudar rapidinho?” disse Emily, tentando impedir que seu rosto desmoronasse.

Daniel levantou os olhos e franziu a testa. Evidentemente, podia ver através de seu sorriso engessado. “Com o quê?”

“Humm ...” Emily se atrapalhou. “Preciso levantar algo pesado.”

“Levantar o quê?” Daniel pressionou.

Emily disse a primeira coisa que veio à mente. “Rolos de papel higiênico.”

Chantelle deu uma risadinha. “Rolos de papel higiênico pesados?”

“Daniel”, Emily rebateu. “Por favor. Apenas me ajude aqui um instante.”

Daniel suspirou e se levantou da mesa. Emily agarrou seu braço e o puxou para o corredor.

“É o papai”, ela sussurrou. “Ele não está no quarto.”

Pela mudança na expressão de Daniel, Emily sabia que finalmente havia entendido por que ela estava se comportando de maneira tão estranha.

“Ele não deve ter ido embora”, Daniel assegurou-lhe, esfregando seus braços. “Provavelmente está no jardim”.

“Você não sabe se ele está,” respondeu Emily. Ela já estava cedendo ao pânico, começando a chorar.

“Vou olhar no quintal”, disse Daniel. “Você olha pela casa.”

Emily assentiu, feliz por alguém dizer-lhe o que fazer. Mal conseguia pensar de tanto medo.

Daniel saiu apressado da casa e Emily subiu as escadas, avançando os degraus de dois em dois. Verificou cada um dos quartos abertos, mas sem sucesso. Pela janela, podia ver Daniel no quintal, correndo. Sem sorte.

Então Emily teve uma ideia. Foi até o final do corredor e abriu a porta do escritório de Roy.

O cômodo estava escuro, as cortinas fechadas, mas a luminária da escrivaninha estava acesa, criando um efeito de holofote na superfície da madeira. Debruçada atrás, estava a silhueta inconfundível de Roy Mitchell, inclinado sobre alguma coisa, consertando algo.

Emily deu um enorme suspiro de alívio e apoiou-se contra a moldura da porta, deixando-a suportar seu peso enquanto a tensão deixava seu corpo.

“Ah, bom dia”, disse Roy inocentemente, olhando na direção dela. “Eu estava apenas consertando isto.” Ele ergueu um relógio cuco, com a porta traseira aberta. Fechou-a gentilmente e o cuco saltou pela frente. Sorrindo, ele o colocou de volta. “Agora está como novo.”

O pânico de Emily desapareceu e foi substituído pela felicidade com a mesma rapidez. Ver seu pai consertando coisas era tão familiar que chegava a ser estranho. Era como se ele sempre tivesse estado aqui. Aquela visão a deixou muito feliz.

“Quer tomar seu café da manhã?” perguntou Emily.

Roy assentiu e se levantou. Quando desceram juntos, Emily bateu na janela de onde podia espiar Daniel correndo pelo quintal. Ele olhou para o barulho e Emily mostrou-lhe um sinal de positivo. Ela observou os ombros dele relaxarem, aliviados.

Entraram na cozinha, onde Chantelle ainda estava tomando o café da manhã, alheia aos acontecimentos.

“Parece que você preparou um banquete” disse Roy, rindo, enquanto se sentava ao lado de Chantelle.

“Dormiu bem, vovô Roy?" Chantelle perguntou. Ela tinha adormecido na noite anterior enquanto arrumava seu quarto e só agora o via novamente.

Roy se serviu de um copo de suco. “Maravilhosamente, obrigada, minha querida. A cama era tão confortável quanto a que eu costumava dormir quando esta era a minha casa.”

Ao ouvir essas palavras, Emily sentiu uma súbita preocupação. A casa ainda era dele. Ela assumiu-a com o pressuposto de que ele estava desaparecido, presumivelmente morto, mas agora que esse não era mais o caso, ele legalmente tinha todo o direito de tirá-la dela.

Daniel entrou para se juntar ao café da manhã em família.

“Caminhada matinal?”, Perguntou Roy enquanto se sentava.

Os olhos de Emily e Daniel se encontraram, cúmplices.“Nada como o ar fresco do início da manhã”, disse ele com um toque de sarcasmo que Emily entendeu ser para ela.

“O vovô Roy estava me contando sobre quando esta era a casa dele”, Chantelle informou ao pai.

“Bem, na verdade ainda é”, explicou Emily. Ela olhou para o pai, preocupada. “Você a quer de volta?”

Roy começou a rir. “Deus do céu, não! Estou muito feliz por você ter tomado posse dela, filha. Não planejo voltar a Sunset Harbour.

Emily deveria ter se sentido feliz em ouvir a confirmação de que seu pai não estava planejando tomar a casa de volta, mas em vez disso sentiu tristeza ao confirmar que a presença dele aqui era apenas temporária. Não sabia ao certo no que estava pensando, nem se tinha pensado nisso, mas agora parecia muito difícil aceitar que ele a deixaria de novo.

Ela pegou sua toranja com um garfo e deu uma mordida amarga.

“Quanto tempo você vai ficar com a gente?” perguntou Chantelle de maneira inocente e infantil.

“Só até depois do casamento”, explicou Roy, com uma voz suave que ele parecia guardar apenas para Chantelle, uma voz que Emily se lembrava de ouvir quando tinha essa idade. “É por isso que estou aqui. Para ajudar nos preparativos.” Ele olhou para a filha. “Quer que eu ajude em alguma coisa?”

Emily ainda estava tentando entender o fato de que o aparecimento de Roy em sua vida seria breve e fugaz, que, mal ele havia voltado, já estava indo embora novamente. A última coisa em que conseguia pensar agora era na organização do casamento! E, de qualquer forma, ele estava um pouco atrasado para o jogo. Faltava pouco mais de uma semana para a cerimônia e praticamente a maioria das coisas já havia sido feita.

“Você pode ficar de olho em Chantelle quando eu estiver cheia de coisas para fazer”, disse Emily. “Se ela não se importar, é claro”.

Chantelle sorriu. “Podemos consertar a estufa de Trevor!”

Roy pareceu interessado. “Estufa de Trevor?”

“Trevor Mann, o vizinho”, Emily começou. E não pôde mais continuar. A dor pela morte de Trevor ainda era recente. Não sabia ao certo como explicar a situação. “Nós nos tornamos amigos recentemente e... bem, ele faleceu. E me deixou sua casa em seu testamento.”

Roy levantou as sobrancelhas. Emily poderia dizer, pela expressão em seu rosto, que a relação dele com Trevor tinha sido ruim.

“Trevor Mann deixou a casa para você?”, perguntou Roy, surpreso.

Emily assentiu. “Eu sei. Foi uma amizade improvável. Eu fiquei ao lado dele no final da sua vida”.

“Como ele morreu?”, Perguntou Roy, suavemente.

“Talvez não devêssemos discutir isso na mesa”, Daniel interrompeu, olhando para Chantelle, que tinha empalidecido.

Roy voltou toda a atenção para Chantelle. Seu tom de voz voltou ao ritmo calmo e paternal.

“Eu adoraria consertar a estufa com você”, disse ele. “Você pode ser a chefe e me dizer o que precisa ser feito.”

O rosto de Chantelle se iluminou instantaneamente. Queria muito conferir as árvores frutíferas desde a morte de Trevor, mas Emily sempre evitava isso, não estava pronta para abrir aquela ferida.

“Posso mostrar ao vovô Roy agora?” perguntou Chantelle, olhando primeiro para Daniel e depois para Emily.

Daniel fez um gesto para Emily, passando a bola para ela. Ela havia falado com o noivo tantas vezes sobre não estar pronta para entrar na casa, que ele achou melhor ela decidir, do que prometer a Chantelle algo que eles não poderiam cumprir.

“Claro, tudo bem”, disse Emily.

Ela estava um pouco relutante em pôr os pés dentro da casa do falecido, mas com seu pai e seus entes queridos apoiando-a, talvez não fosse tão doloroso quanto pensava.

*

Emily respirou fundo e virou a chave na porta da casa de Trevor. Ela se abriu, deixando sair o ar viciado, confinado há meses. O corredor estava escuro e Emily estremeceu, sentindo-se nervosa.

Entrou primeiro, liderando o caminho. Atrás dela, Daniel segurava firmemente a mão de Chantelle, acalmando a menininha.

Enquanto caminhava pelo corredor, não pôde deixar de lembrar trechos das conversas que compartilhara com Trevor. Quando viu a mesa onde costumavam se sentar para tomar chá, o pedaço do teto rebocado após uma tempestade atingir a casa, as lembranças voltaram com força. Em tudo, a casa a fazia lembrar de Trevor. Reformá-la um dia seria demais para ela.

“A estufa é por aqui”, disse Chantelle.

Emily se afastou e permitiu que a menina assumisse o comando. Todos a seguiram pelos fundos da casa e entraram pela porta de vidro da estufa.

Apesar de Trevor gostar de ficar sentado ali em suas últimas semanas de vida, o lugar estava em péssimo estado. Eles ficaram olhando ao redor, percebendo a enorme quantidade de trabalho que precisaria ser feito para que voltasse à sua antiga glória.

Chantelle pegou o bloco de notas e começou a fazer uma lista de tarefas. “Acho que precisamos de uma fonte”, disse ela. “Bancos para que possamos nos sentar e ler no verão. Um balanço também. Um lugar onde o papai possa fazer uma horta. E um jardim com flores.”

399 ₽
Возрастное ограничение:
16+
Дата выхода на Литрес:
10 октября 2019
Объем:
241 стр. 2 иллюстрации
ISBN:
9781640296558
Правообладатель:
Lukeman Literary Management Ltd
Формат скачивания:
epub, fb2, fb3, ios.epub, mobi, pdf, txt, zip

С этой книгой читают

18+
Эксклюзив
Черновик
4,9
38
Эксклюзив
Черновик
4,7
243