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CAPÍTULO SEIS

—Papai, você não precisa me acompanhar até a porta toda vez, Maya gritou enquanto cruzavam Dahlgren Quad em direção a Healy Hall no campus de Georgetown.

–Eu sei que não preciso, disse Reid. Eu quero. Você tem vergonha de ser vista com seu pai?

–Não é isso, Maya murmurou. O passeio tinha sido tranquilo, Maya olhando pensativa pela janela, enquanto Reid tentava pensar em algo para falar, mas não conseguiu.

Maya estava se aproximando do final de seu primeiro ano do ensino médio, mas ela já havia feito o teste de suas aulas de AP e começou a fazer alguns cursos por semana no campus de Georgetown. Foi um bom salto em direção ao crédito universitário e foi ótimo para a aplicação – especialmente porque Georgetown era sua melhor escolha no momento. Reid insistiu não só em levar Maya para a faculdade, mas também em levá-la para a sala de aula.

Na noite anterior, quando Maria foi obrigada a interromper o encontro de repente, Reid correu para suas meninas. Ficou extremamente perturbado com a notícia da fuga de Rais – seus dedos tremiam contra o volante de seu carro -, mas ele se forçou para permanecer calmo e tentou pensar logicamente. A CIA já estava em busca e provavelmente também a Interpol. Ele conhecia o protocolo; todos os aeroportos seriam vigiados, e bloqueios seriam estabelecidos nas principais vias de comunicação de Sion. E Rais não tinha aliados a quem recorrer.

Além disso, o assassino havia escapado na Suíça, a mais de seis mil quilômetros de distância. Meio continente e um oceano todo se estendiam entre ele e Kent Steele.

Mesmo assim, sabia que se sentiria muito melhor quando recebesse a notícia de que Rais havia sido detido novamente. Estava confiante na capacidade de Maria, mas desejou ter tido a perspicácia de pedir a ela para mantê-lo atualizado da melhor maneira possível.

Ele e Maya chegaram à entrada de Healy Hall e Reid parou.

–Tudo bem, vou te ver depois da aula?

Ela olhou para ele desconfiada.

–Você não vai me acompanhar?

—Não hoje. Tinha a sensação de que sabia por que Maya estava tão quieta naquela manhã. Ele lhe dera um pedacinho de independência na noite anterior, mas hoje estava de volta aos seus receios habituais. Tinha que se lembrar que ela não era mais uma garotinha.

–Olha, eu sei que tenho ficado um pouco em cima de você pouco ultimamnte…

—Um pouco? Maya zombou.

–… E sinto muito por isso. Você é uma jovem muito capaz, perspicaz e inteligente. E só quer independência. Eu reconheço isso. Minha natureza superprotetora é um problema meu, não seu. Não é culpa sua.

Maya tentou esconder o sorriso no rosto dela.

–Você acabou de usar a fala 'não é você, sou eu'?

Ele assentiu.

–Usei, porque é verdade. Eu não seria capaz de me perdoar se algo acontecesse com você e eu não estivesse lá para evitar.

—Mas você nem sempre vai estar lá, ela disse, não importa o quanto você tente. E preciso ser capaz de cuidar de meus problemas.

–Você está certa. Vou tentar recuar um pouco.

Ela arqueou uma sobrancelha.

–Você promete?

–Eu prometo.

—Ok. Ela se esticou na ponta dos pés e beijou sua bochecha. Vejo você depois das aulas. Ela se dirigiu para a porta, mas depois teve outro pensamento:

–Sabe, talvez eu devesse aprender a atirar, por via das dúvidas…

Ele apontou um dedo severo em sua direção.

–Não me provoque.

Ela sorriu e desapareceu no corredor. Reid ficou parado por alguns minutos. Deus, as meninas estavam crescendo rápido demais. Em dois curtos anos, Maya seria uma adulta, legalmente falando. Em breve teria carros, aulas na faculdade e… e, mais cedo ou mais tarde, garotos. Felizmente, isso ainda não havia acontecido.

Ele se distraiu admirando a arquitetura do campus enquanto se dirigia para o Copley Hall. Não tinha certeza se ficaria cansado de andar pela universidade, apreciando as estruturas dos séculos XVIII e XIX, muitas construídas no estilo Românico Flamengo que floresceu na Idade Média europeia. Claro que eram bons os meados de março na Virgínia. Pois acontecia um ponto de virada na estação. A temperatura subia e descia dos dez aos quinze graus em dias mais agradáveis.

No seu papel como um adjunto estava tipicamente assumindo turmas menores, de vinte e cinco a trinta alunos e principalmente de pós-graduação. Ele se especializou em lições de guerra, e muitas vezes substituía o professor Hildebrandt, que era titular e viajava frequentemente por causa de um livro que estava escrevendo.

Ou talvez ele esteja secretamente na CIA, refletiu Reid.

—Bom dia, disse em voz alta quando entrou na sala de aula. A maioria de seus alunos já estava lá quando chegou, então correu para a frente, colocou sua bolsa de viagem na mesa e tirou o casaco de tweed.

—Estou alguns minutos atrasado, então vamos direto ao ponto.

Era bom estar na sala de aula novamente. Esse era o elemento dele – pelo menos um deles.    —Tenho certeza de que alguém aqui pode me dizer: qual foi o evento mais devastador, pelo número de mortes, na história europeia?

—Segunda Guerra Mundial, alguém falou imediatamente.

–É um dos piores em todo o mundo, com certeza, respondeu Reid, mas a Rússia se saiu muito pior do que a Europa, pelos números. O que mais?

—A conquista mongol, disse uma menina morena com um rabo de cavalo.

–Outro bom palpite, mas vocês estão pensando em conflitos armados. O que estou pensando é menos antropogênico; mais biológico.

—Peste Negra, murmurou um garoto loiro na primeira fila.

–Sim, senhor…?

–Wright, o garoto respondeu.

Reid sorriu.

–Sr. Wright? Aposto que você usa esse sobrenome para paquerar as garotas.

O garoto sorriu timidamente e balançou a cabeça.

—Sim, o Sr. Wright está certo – a Peste Negra. A pandemia da peste bubônica começou na Ásia Central, viajou pela Rota da Seda, foi levada para a Europa por ratos em navios mercantes e, no século XIV, matou uma estimativa de setenta e cinco a duzentos milhões de pessoas. Parou por um momento para enfatizar seu discurso.

—Isso é uma enorme disparidade, não é? Como esses números podiam ser altos assim?

A morena na terceira fileira levantou a mão ligeiramente.

–Porque eles não tinham uma Agência de recenseamento há setecentos anos atrás?

Reid e alguns outros estudantes riram.

–Bem, claro, tem isso. Mas também é por causa da rapidez com que a peste se espalhou. Quer dizer, estamos falando de mais de um terço da população da Europa morta em dois anos.

Para colocar isso em perspectiva, seria como se toda a costa leste e a Califórnia tivessem desaparecido. Ele se encostou na mesa e cruzou os braços. Agora eu sei o que você está pensando. ‘Professor Lawson, você não é o cara que entra e fala sobre guerra?’ Sim, e estou falando disso agora.

—Alguém mencionou a conquista mongol. Genghis Khan teve o maior império contíguo da história por um breve período, e suas forças marcharam na Europa Oriental durante os anos da praga na Ásia. Khan é tido como um dos primeiros a usar o que hoje classificamos como guerra biológica; se uma cidade não cedesse a ele, seu exército catapultaria os corpos infectados pela peste sobre suas muralhas, e então… teriam que esperar um pouco.

O Sr. Wright, o garoto loiro na fila da frente, franziu o nariz em desgosto.

–Isso não pode ser real.

–É real, asseguro-lhe. Cerco a Kafa, no que hoje é a Crimeia, 1346. Vejam, queremos pensar que algo como a guerra biológica é um conceito novo, mas não é. Antes de termos tanques, drones, mísseis ou até mesmo armas no sentido moderno, nós, ã… eles, ã…

—Por que você tem isso, Reid? Ela pergunta acusadoramente. Seus olhos estão mais com medo do que com raiva.

Ao mencionar a palavra —armas, uma lembrança repentinamente passou por sua mente – a mesma memória de antes, mas mais clara agora. Na cozinha de sua antiga casa na Virgínia. Kate encontrara alguma coisa enquanto limpava a poeira de um dos dutos do ar condicionado.

Uma arma na mesa – uma pequena, uma LC9 de nove milímetros e prateada. Kate gesticula para ela como um objeto amaldiçoado.

—Por que você tem isso, Reid?

—É… só por proteção – você mente.

—Proteção? Você ao menos sabe como usá-la? E se uma das meninas tivesse encontrado?

—Elas não…

—Você sabe o quão curiosa Maya é. Jesus, eu nem quero saber como você conseguiu isso. Eu não quero isso em nossa casa. Por favor, livre-se disso.

—Claro. Me desculpe, Katie. Katie – o nome que você usa quando ela está com raiva.

Você cuidadosamente pega a arma da mesa, como se não tivesse certeza de como lidar com ela. Depois que ela sair para o trabalho, você terá que pegar as outras onze escondidas em toda a casa. Encontre pontos melhores para escondê-las.

—Professor? O garoto loiro, Wright, olhou para Reid com preocupação. Você está bem?

–Oi… sim. Reid se endireitou e limpou a garganta. Seus dedos doíam; agarrou a borda da mesa com força quando a memória o atingiu. Sim, desculpe-me.

Não havia dúvida agora. Tinha certeza de que perdera pelo menos uma lembrança de Kate.

—Hum… desculpe, pessoal, mas de repente eu não estou me sentindo bem, disse à turma. Foi repentino. Estão dispensados por hoje. Vou passar algumas leituras, e trabalharemos com elas na segunda-feira.

Suas mãos tremiam quando recitou os números das páginas. O suor se arrepiou em sua testa enquanto os alunos saíam. A menina morena da terceira fila parou em sua mesa.

–Você não parece bem, professor Lawson. Você quer que a gente ligue para alguém?

Uma enxaqueca estava se formando na frente de seu crânio, mas ele forçou um sorriso que esperava que fosse agradável.

–Não, obrigado. Eu vou ficar bem. Só preciso de um pouco de descanso.

–OK. Fique melhor, professor. Ela também saiu da sala de aula.

Assim que ficou sozinho, abriu a gaveta da escrivaninha, encontrou uma aspirina e engoliu-a com água de uma garrafa da sua bolsa.

Sentou-se na cadeira e esperou que seu batimento cardíaco diminuísse. A memória não tinha apenas um impacto mental ou emocional sobre ele – também tinha um efeito físico muito real. O pensamento de perder qualquer parte de Kate de sua memória, quando ela já havia sido tirada de sua vida, era nauseante.

Depois de alguns minutos, a sensação doentia em seu intestino começou a diminuir, mas não os pensamentos rodando em sua mente. Não conseguiu mais desculpas; teve que tomar uma decisão. Ele teria que determinar o que faria.

De volta a casa, em uma caixa em seu escritório, pegou a carta que lhe dizia onde poderia procurar ajuda – um médico suíço chamado Guyer, o neurocirurgião que instalara o supressor de memória em sua cabeça, em primeiro lugar. Se alguém pudesse ajudar a restaurar suas memórias, seria ele. Reid passou o último mês vacilando sobre se deveria ou não pelo menos tentar recuperar sua memória completamente.

Mas partes de sua esposa haviam desaparecido e não tinha como saber o que mais poderia ter sido eliminado com o supressor.

Agora estava pronto.

CAPÍTULO SETE

—Olhe para mim, disse o imã Khalil em árabe. Por favor.

Ele pegou o menino pelos ombros, um gesto paternal, e se ajoelhou um pouco, de modo que ficou cara a cara com ele. Olhe para mim, disse novamente. Não era uma exigência, mas um pedido gentil.

Omar teve dificuldade em olhar Khalil nos olhos. Em vez disso, olhou para o queixo, para a barba preta aparada, raspada delicadamente até o pescoço. Olhou para as lapelas de seu terno marrom escuro, de modo algum caro, porém mais fino do que qualquer roupa que Omar já tivesse usado.

O homem mais velho tinha um cheiro agradável e falava com o rapaz como se fossem iguais, com um respeito diferente de qualquer outro que já tivessem mostrado a ele antes. Por todas essas razões, Omar não conseguiu olhar Khalil nos olhos.

—Omar, você sabe o que é um mártir? Perguntou ele. Sua voz era clara, mas não alta. O garoto nunca ouvira o imã gritar.

Omar sacudiu a cabeça.

–Não, Imam Khalil.

–Um mártir é um tipo de herói. Mas é mais que isso; é um herói que se entrega completamente a uma causa. Um mártir é lembrado. Um mártir é celebrado. Você, Omar, será celebrado. Você será lembrado. Você será amado para sempre. Você sabe por quê?

Omar assentiu levemente, mas não falou. Ele acreditava nos ensinamentos do Imam, se apegara a eles como um salva-vidas, ainda mais depois do bombardeio que matou sua família. Mesmo depois de ser forçado a sair de sua terra natal na Síria por dissidentes. Teve alguns problemas, no entanto, continuava acreditando no que o Imam Khalil havia dito a ele há poucos dias.

—Você é abençoado, disse Khalil. – Olhe para mim, Omar. Com muita dificuldade, Omar ergueu o olhar para encontrar os olhos castanhos de Khalil, suaves e amigáveis, mas de alguma forma intensos.

–Você é o Mahdi, o último dos Imam. O Redentor que livrará o mundo de seus pecadores. Você é um salvador, Omar. Você entende?

—Sim, Imam.

–E você acredita, Omar?

O menino não tinha certeza. Não se sentia especial, importante, ou abençoado por Allah, mas ainda assim respondeu:

–Sim, Imam. Eu acredito nisso.

–Allah falou comigo, disse Khalil suavemente, e ele me disse o que devemos fazer. Você se lembra do que deve fazer?

Omar assentiu. Sua missão era bem simples, embora Khalil tivesse se assegurado de que o menino não tivesse dúvidas sobre o que isso significaria para ele.

–Bom. Bom. Khalil sorriu largamente. Seus dentes eram perfeitamente brancos e brilhavam ao sol radiante.

–Antes de nos separar, Omar, você me faria a honra de orar comigo por um momento?

Khalil estendeu a mão e Omar a pegou. Era quente e suave. O Imam fechou os olhos e seus lábios se moveram com palavras silenciosas.

—Imam? Disse Omar em um quase sussurro. Não deveríamos enfrentar Meca?

Mais uma vez Khalil sorriu amplamente.

–Não hoje, Omar. O único Deus verdadeiro me concede um pedido; hoje estou com você.

Os dois homens ficaram ali por um longo momento, rezando silenciosamente e encarando um ao outro. Omar sentiu o sol quente em seu rosto e, pelo minuto silencioso que se seguiu, pensou ter sentido algo, como se os dedos invisíveis de Deus lhe acariciassem a face.

Khalil se ajoelhou um pouco enquanto permaneciam à sombra de um pequeno avião branco. No avião poderia caber apenas quatro pessoas e tinha hélices sobre as asas. Era o mais próximo que Omar já estiver deles – além da viagem da Grécia para a Espanha, que foi a única vez em que Omar também esteve em um avião.

—Obrigado por isso. Khalil tirou a mão do menino. Preciso ir agora e você também deve. Allah está com você, Omar, a paz esteja com Ele, e a paz esteja com você. O homem mais velho sorriu mais uma vez para ele, e então se virou e subiu a rampa curta no avião.

Os motores começaram ganindo a princípio, e depois subindo a um rugido. Omar deu vários passos para trás enquanto o avião avançava pela pequena pista de pouso. Observou a velocidade, cada vez mais rápida, até que subiu ele no ar e finalmente desapareceu.

Sozinho, Omar olhou para cima, apreciando a luz do sol em seu rosto. Era um dia quente, mais quente que a maioria da época do ano. Então começou a caminhada de seis quilômetros que o levaria a Barcelona. Enquanto caminhava, enfiou a mão no bolso, os dedos gentilmente, mas protetoramente, envolvendo o pequeno frasco de vidro que estava ali.

Omar não pôde deixar de se perguntar por que Allah não tinha vindo diretamente a ele. Em vez disso, sua mensagem foi passada pelo Imam. Eu teria acreditado? Omar pensou. Ou eu teria pensado que era apenas um sonho? Imam Khalil era santo e sábio, e reconheceu os sinais quando se apresentaram.

Omar era um garoto jovem e ingênuo, de apenas dezesseis anos, que conhecia pouco do mundo, particularmente do Ocidente. Talvez não estivesse em condições de ouvir a voz de Deus.

Khalil havia lhe dado um punhado de euros para levar com ele para Barcelona.

–Faça tudo no seu tempo, o homem mais velho tinha dito. Desfrute de uma boa refeição. Você merece isso.

Omar não falava espanhol, apenas algumas frases rudimentares em inglês. Além disso, não estava com fome, então ao invés de comer quando chegou na cidade, encontrou um banco com vista para a cidade. Ele sentou-se sobre ele, perguntando por que aqui, de todos os lugares.

Tenha fé, o Imam Khalil diria. Omar decidiu que ele teria fé.

À sua esquerda estava o Hotel Barceló Raval, um estranho prédio redondo adornado de luzes roxas e vermelhas, com jovens bem vestidos indo e vindo de suas portas. Não o conhecia pelo nome; sabia apenas que parecia um farol, atraindo pecadores opulentos como uma chama atraía mariposas. Deu-lhe força para se sentar diante dele, reforçando sua crença para que pudesse fazer o que viria a seguir.

Omar cuidadosamente pegou o frasco de vidro do bolso. Não parecia que havia algo dentro dele, ou talvez o que estivesse nele fosse invisível, como ar ou gás. Não importava. Sabia bem o que deveria fazer com isso. O primeiro passo foi concluído: entrar na cidade. O segundo passo ele realizou no banco abaixo de uma sombra no Raval.

Ele beliscou a ponta do vidro cônico do frasco entre dois dedos e, em um movimento pequeno, mas rápido, quebrou-a.

Um pequeno pedaço de vidro ficou preso no dedo dele. Ele observou quando uma gota de sangue se formou, mas resistiu ao impulso de enfiar o dedo em sua boca. Em vez disso, fez o que lhe mandaram fazer – colocou o frasco em uma narina e inalou profundamente.

Assim que ele inalou, um nó de pânico agarrou seu intestino. Khalil não lhe dissera nada específico sobre o que esperar depois disso. Simplesmente disse para esperar um pouco, então ele esperou e fez o seu melhor para permanecer calmo. Observou mais pessoas entrarem e saírem do hotel, cada uma vestida com roupas extravagantes e ostensivas. Estava muito ciente de seu humilde traje; o suéter surrado, as bochechas irregulares, o cabelo que cresceu por muito tempo indisciplinado. Lembrou a si mesmo que a vaidade era um pecado.

Omar sentou-se e esperou que algo acontecesse, para sentir que trabalhava dentro dele, o que quer que fosse aquilo.

Não sentiu nada. Não houve diferença.

Passou-se uma hora inteira no banco e, por fim, ele se levantou e caminhou vagarosamente para noroeste, para longe do hotel cilíndrico púrpura e para a cidade propriamente dita. Ele desceu as escadas até a primeira estação de metrô que encontrou. Certamente não sabia ler em espanhol, mas não precisava saber para onde estava indo.

Comprou um ingresso usando os euros que Khalil lhe dera e ficou parado na plataforma à toa até chegar um trem. Ainda assim, não se sentiu diferente. Talvez tivesse julgado mal a natureza da entrega. Ainda assim, havia uma última coisa para fazer.

As portas se abriram e ele entrou, movendo-se com dificuldade entre multidão. O metrô estava bastante movimentado; todos os assentos foram ocupados, então Omar se levantou e segurou uma das barras de metal que corriam paralelamente pelo comprimento do trem, logo acima da sua cabeça.

Sua instrução final foi a mais simples de todas, embora também a mais confusa para ele. Khalil havia dito a ele para embarcar em um trem e —montá-lo até que você não possa mais—. Isso foi tudo.

Na época, Omar não tinha certeza do que isso significava. Mas quando sua cabeça começou a formigar com o suor, a temperatura do corpo aumentou e a náusea subiu em seu estômago, ele começou a ter uma suspeita.

Enquanto os minutos passavam e o trem balançava e balançava sobre os trilhos, seus sintomas pioraram. Sentiu vontade de vomitar. O trem parou na próxima estação e, enquanto as pessoas subiam a bordo ou desembarcavam, Omar se sacudia violentamente. Passageiros se afastaram dele com repulsa.

Seu estômago parecia ter se amarrado em um doloroso nó. Na metade da próxima estação ele tossiu em sua mão. Quando a puxou para longe, seus dedos trêmulos estavam úmidos de sangue escuro e pegajoso.

Uma mulher ao lado dele notou. Ela disse algo rapidamente em espanhol, falando rapidamente, os olhos arregalados em choque. Ela apontou para as portas e tagarelou. Sua voz ficou distante quando um gemido estridente começou nos ouvidos de Omar, percebeu que ela exigia que ele saísse do trem.

Quando as portas se abriram mais uma vez, Omar saiu cambaleando, quase caindo na plataforma.

Ar. Ele precisava de ar fresco.

Alá me ajude, pensou desesperadamente enquanto cambaleava em direção às escadas que levavam ao nível da rua. Sua visão ficou embaçada com lágrimas, seus olhos inundando involuntariamente.

Seu interior gritando de dor, sangue pegajoso em seus dedos, Omar finalmente entendeu seu papel como Mahdi. Ele deveria libertar pestilências neste mundo – e o começo era eliminar seus próprios pecados.

*

—Perdón!

Marta Medellín zombou quando o jovem esbarrou nela bruscamente. Ele parecia ter pouca ou nenhuma consideração pelos outros na rua. Quando ele se aproximou, com os olhos mortos e arrastando os pés, seu ombro esquerdo mergulhou e colidiu com o dela, e ela sussurrou em um duro: Desculpe-me! Em espanhol. No entanto, não lhe deu atenção e continuou.

Depois de ter criado dois filhos, Marta tornou-se familiar a um comportamento rude. A maneira como esse garoto cambaleou sugeriu que ele poderia estar bêbado e, no entanto, parecia quase um adulto! Vergonhoso, ela pensou.

Normalmente, ela não daria uma segunda olhada no jovem rude – não merecia a atenção dela, esbarrando nela assim e não se desculpando – mas então ela ouviu uma tosse; um profundo chocalhar no peito, uma tosse que, para alguém em sua posição, chamava a atenção de forma imediata.

Marta virou-se ao ouvir o som a tempo de ver as pernas dele vacilarem. Ele desabou na calçada enquanto os transeuntes gritavam de surpresa ou saltavam para trás. Ela, por outro lado, correu e se ajoelhou ao lado do menino.

—Señor, ¿puedes escucharme? Senhor, você pode me ouvir? Sua respiração era superficial, vindo rapidamente pela boca aberta. Seu rosto estava pálido e seus olhos semicerrados. Ela checou suas pupilas – totalmente dilatadas. Sua testa estava queimando; sua temperatura ser pelo menos uns trinta e nove, talvez mais.

Várias pessoas haviam parado em um semicírculo para ver o que estava acontecendo.       —Alguém chame uma ambulância!

Exigiu Marta em espanhol. O Hospital de l'Esperança estava muito perto. Sabia que os paramédicos poderiam estar lá em menos de dois minutos. Ela tirou o casaco fino de lã, enrolou-o e colocou-o sob os pés do menino para promover a circulação e impedir o choque.

—Senhor, ela disse novamente, você pode me ouvir?

Não disse nada. Era mais jovem do que ela imaginara, um adolescente na melhor das hipóteses, magro demais, praticamente boiando em um suéter enorme. Mas não parecia fraco o suficiente para ser incapacitado por uma doença comum. Pode ser a gripe, ela pensou. É mais difícil em alguns do que em outros, mesmo em homens e mulheres saudáveis.

Ela colocou a mão na dele. Parecia úmida e fria.

–Por favor, aperte minha mão se você me entende. Em resposta, o menino virou a cabeça para o lado e soltou outra tosse violenta e torturante.

–Senhor, eu preciso saber se tem alguma condição preexistente, ou se está tomando algum medicamento, disse ela tão claramente quanto podia. Ao mesmo tempo, ela checou seus pulsos e pescoço à procura de um bracelete ou colar médico e não encontrou nenhum.

Ele murmurou algo baixinho, algo que Marta não pôde ouvir. Ela se inclinou, perto de sua boca, quando disse de novo.

–Imam… disse o menino em pouco mais de um sussurro. Imam Mahdi…

—Me desculpe, eu não entendo, ela disse a ele. Esse é o seu nome? Você fala espanhol?

Sirenes gritaram pelo quarteirão e o tráfego se abriu quando a ambulância se aproximou. Marta ficou parada quando dois homens saltaram do veículo. Um deles preparou uma maca enquanto o outro corria, aparentemente surpreso ao vê-la.

–Marta? Disse. Você fez a ligação?

–Ele caiu ao meu lado na rua, Ernesto. Ele está queimando de febre, mal responde. Precisamos levá-lo ao pronto-socorro. O paramédico Ernesto ajoelhou-se ao lado do menino e checou seus sinais vitais.

–O BPM está em torno de um para dez, Marta disse a ele. Vias aéreas desobstruídas. Pupilas dilatadas, a temperatura é de pelo menos trinta e nove graus.

Ernesto tentou obter uma resposta do jovem, mas também não teve sucesso. Ele e o jovem técnico, Nicolás, amarraram-no à maca e prenderam-no na traseira da ambulância que o aguardava.

—Marta, precisa de uma carona? Nicolás perguntou quando ele se dirigiu para o assento do motorista.

—Obrigada. Ela subiu na parte de trás com Ernesto. Normalmente, isso seria desaprovado, mas, como enfermeira do pronto-socorro, estava em posição de ajudar, se necessário.

–Vamos atendê-lo imediatamente. Você tem antivirais à mão?

Ernesto lhe lançou um sorriso enquanto preparava uma linha IV.

–Você queria fazer isso, não queria?

Ela sorriu de volta para ele.

–Eu sinto muito. É um hábito. Por favor, vá em frente.

As sirenes tornaram-se vivas novamente, gritando o alerta de emergência enquanto rugiam em direção à entrada do pronto-socorro do Hospital de l'Esperança. Ernesto deu medicamentos ao garoto enquanto Marta espiava o rosto do menino. Seja o que for, aquilo fazia seu rosto ficar contorcido, cada linha e ruga aparecendo – um sinal de dor. Quando seus músculos se afrouxaram e seu rosto se suavizou, ficou ainda mais claro que era apenas uma criança.

—O que você acha? Perguntou Ernesto.

Ela balançou a cabeça.

–No começo eu pensei que era a gripe, mas agora… pode ter sido ignorado e progrediu para pneumonia. Estava tossindo antes, uma tosse profunda e terrível. Certamente há algum fluido em seus pulmões…

De repente, o menino tossiu de novo, um único som agudo que espirrou saliva no rosto de Marta. Sua mão instintivamente chegou a limpá-la.

Manchas vermelhas mancharam as pontas dos seus dedos.

—Dios mio, ela murmurou. Ele tem sangue em seus pulmões. Ligue antes, avise-os.

A ambulância guinchou até o lado de fora do pronto-socorro e as portas traseiras foram imediatamente abertas por um par de enfermeiras, ambas surpresas ao ver Marta saindo.

–Leve-o, eu estarei lá. Ela se afastou e deixou o pessoal trabalhar; regras são regras, e ela ainda não estava no seu expediente.

Ela pegou o casaco de lã e limpou o rosto completamente. Era vacinada contra tudo, obrigatoriamente. Então duvidava que precisasse se preocupar. Mesmo assim, não faria mal receber um reforço quando a doença do menino fosse identificada.

Marta franziu a testa. O estacionamento parecia mais movimentado do que o habitual, mais ativo. À sua esquerda, um homem de meia-idade se aproximava, apoiando uma mulher que parecia mal conseguir andar. Seu rosto estava pálido, seus olhos mal abertos. O homem, presumivelmente o marido dela, avistou Marta ali, de uniforme e distintivo, e chamou-a.

Ayudame, ele implorou. Por favor. Ajude-me. Por favor.

Ela correu na direção dele e então deu um pulo para trás com um grito quando um carro que se aproximava passou rápido, guinchando até parar ao lado da ambulância estacionada.

O que está acontecendo? Pensou desesperadamente.

Ela ouviu outro guincho de pneus e, em seguida, um barulho alto e surpreendente – um carro entrando no estacionamento atingiu outro, batendo no para-choque traseiro enquanto os dois corriam em direção ao hospital.

Marta fez uma pausa e examinou o estacionamento. Carros estavam entrando. As pessoas se arrastavam pela calçada, tossindo e gemendo de dor. Um homem idoso, a menos de vinte metros dela, limpou o sangue de seus lábios.

—Meu Deus, ela disse novamente. Seus dedos distraidamente tocaram seu rosto. Estava limpo do sangue do menino, mas essa era a menor das suas preocupações agora. Sabia o que era aquilo.

Era um surto.

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299 ₽
Возрастное ограничение:
16+
Дата выхода на Литрес:
09 сентября 2019
Объем:
361 стр. 3 иллюстрации
ISBN:
9781094303659
Правообладатель:
Lukeman Literary Management Ltd
Формат скачивания:
epub, fb2, fb3, ios.epub, mobi, pdf, txt, zip

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