Читать книгу: «A corda do Diabo », страница 2

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CAPÍTULO DOIS

O homem sentiu prazer ao ouvir o gemido fraco da mulher. Ele sabia que ela estava voltando a ficar consciente. Sim, ele pode ver os olhos dela se abrindo um pouco.

Ela estava deitada de lado em uma mesa de madeira rústica na pequena sala de chão sujo, paredes de concreto e teto de madeira baixo. Estava amarrada com força, como uma concha, com muita fita adesiva. Suas pernas pressionavam seu peito, e suas mãos estavam presas nas canelas. Sua cabeça estava encostada em seus joelhos.

Ela o fazia lembrar de fotos que ele havia visto de fetos humanos—e também de embriões que às vezes encontrava quebrando ovos de galinha. Ela parecia inocente, ingênua, e aquilo de era de certa forma comovente.

Principalmente, é claro, ela o lembrava de outra mulher—seu nome era Alice, ele acreditava. Certa vez, ele pensara que Alice seria a única que ele trataria daquele jeito, mas ele havia gostado... e havia poucos prazeres em sua vida... como ele iria parar?

- Dói – a mulher murmurou, como se estivesse sonhando. – Por que dói?

Ele sabia que era porque ela estava deitada em uma cama com um emaranhado de arame farpado. O sangue escorria pela mesa, juntando-se às manchas da mesa inacabada. Não que aquilo importasse. A mesa era mais velha do que ele, e ele era a única pessoa que a veria.

Ele também estava com dor e sangrando. Havia se cortado ao tirá-la da picape com arame farpado. Fora mais difícil do que ele esperava, porque ela havia tentado lutar mais de uma vez.

Ela havia se contorcido muito enquanto o clorofórmio caseiro fizera efeito. Mas sua luta enfraquecera e ele finalmente a dominara completamente.

Mesmo assim, ele não estava chateado por ter se machucado com o arame. Sabia, por experiência própria, que aqueles arranhões curavam-se rapidamente, mesmo que deixassem algumas cicatrizes.

Abaixou-se e olhou o rosto dela de perto.

Os olhos dela estava abertos, arregalados agora. Sua íris se contorcia enquanto ela olhava para ele.

Ela ainda está tentando evitar olhar para mim, ele percebeu.

Todo mundo agia assim com ele, em qualquer lugar. Ele não culpava as pessoas por fingirem que ele era invisível, ou que ele simplesmente não existia. Algumas vezes, ele olhava no espelho e desejava que pudesse desaparecer.

Então, a mulher murmurou novamente...

- Dói.

Além dos cortes, ele sabia que a cabeça dela estava doendo por conta da alta dose de clorofórmio caseiro. Na primeira vez em que criara aquela substância, ali mesmo, ele quase havia desmaiado, e sofrera com uma dor de cabeça forte vários dias depois. Mas a preparação havia dado certo, então ele pode continuar.

Agora, ele estava preparado para o próximo passo. Estava vestindo luvas grossas e uma jaqueta grossa e acolchoada. Não iria machucar a si mesmo novamente até terminar o processo.

Começou o trabalho com o arame farpado e cortadores de fio. Depois, passou um fio pelo corpo da mulher e torceu as pontas em nós improvisados para mantê-lo no lugar.

A mulher gemeu de dor e tentou se virar, mas o arame arranhou sua pele e sua roupa.

Enquanto trabalhava, ele disse:

- Você não precisa ficar quieta. Pode gritar o quanto quiser—se for ajudar.

Certamente, ele não tinha medo de que alguém pudesse ouvi-la.

Ela resmungou mais alto, como se quisesse gritar, mas estava com a voz fraca.

Ele riu, quieto. Sabia que ela não conseguiria juntar ar suficiente nos pulmões para gritar—não com as pernas apertando seu peito daquele jeito.

Ele colocou mais um fio de arame farpado nela e apertou, vendo o sangue sair de cada machucado através das roupas dela, encharcando o tecido, abrindo buracos muito maiores do que o machucado em si.

Seguiu puxando fio por fio em volta dela, até que ela estivesse toda amarrada, como se fosse um casulo de arame enorme, longe de parecer um humano. Aquele casulo fazia todos os tipos de sons, estranhos e baixos, gemidos e suspiros. O sangue não parou de jorrar até deixar a mesa inteira pintada de vermelho.

Então, ele deu um passo atrás e admirou seu trabalho.

Apagou a luz acima de sua cabeça e caminhou no escuro, fechando a porta pesada de madeira.

O céu estava limpo e estrelado, e ele só podia ouvir o barulho alto dos grilos.

Respirou profundamente aquele ar puro.

A noite estava perfeita naquele momento.

CAPÍTULO TRÊS

Enquanto se alinhava juntamente com os outros estagiários para a foto oficial, Riley ouviu a porta da sala de recepção abrir.

Seu coração pulou, e ela virou-se cheia de expectativa para ver quem havia chegado.

Mas era apenas Hoke Gilmer, o supervisor do programa de treinamento, retornando após uma saída rápida.

Riley segurou um suspiro. Ela já sabia que o Agente Crivaro não estaria ali naquele dia. No dia anterior, ele havia a parabenizado por completar o curso, e disse que queria voltar para Quantico. Era óbvio que ele simplesmente não gostava de cerimônias e recepções.

Sua esperança secreta era de que Ryan pudesse aparecer do nada para celebrar com ela o término do programa de verão.

Mas é claro que ela sabia que não podia esperar que isso acontecesse.

Mesmo assim, não pode deixar de fantasiar que, de alguma maneira, ele mudaria de ideia e apareceria no último minuto, pedindo desculpas por seu comportamento frio na noite anterior e finalmente dizendo as palavras que ela esperava tanto que ele dissesse.

“Quero que você vá para a academia. Quero que você persiga seu sonho.”

Mas obviamente, aqui não iria acontecer.

E quanto mais rápido eu tirar isso da minha cabeça, melhor.

Os 20 estagiários formaram três filas para os fotógrafos—uma sentada em uma mesa comprida, com as outras duas em pé, atrás deles. Com todos alinhados em ordem alfabética, Riley estava na fila de trás, entre duas outras estudantes cujos sobrenomes começavam com S—Naomi Strong e Rhys Seely.

Ela não conhecia nenhuma das duas muito bem.

Na verdade, ela não conhecia bem nenhum dos outros estagiários. Havia se sentido um peixe fora d’água entre eles desde o primeiro dia do programa, dez semanas antes. O único aluno de quem ela se aproximara durante todo aquele tempo fora John Welch, que agora estava em pé, um pouco mais a sua esquerda.

Naquele primeiro dia, John havia explicado porque os outros estavam olhando estranho e sussurrando coisas sobre ela.

“Todo mundo aqui sabe quem você é. Acho que sua reputação fala por você, antes de você mesma.”

Riley era, de fato, a única estagiária que já tinha o que todo mundo chamava de “experiência de campo”.

Ela segurou outro suspiro ao pensar naquelas palavras.

“Experiência de campo.”

Achava estranho pensar no que acontecera na Lanton University como “experiência de campo”. Aquilo havia sido mais um pesadelo. Nunca conseguira tirar de suas memórias a imagem de duas amigas próximas com suas gargantas cortadas em seus quartos banhados de sangue.

Na época, a última coisa que ela pensara era em um treinamento no FBI. Fora colocada no caso sem escolha—e havia ajudado a resolvê-lo, e por isso todos no programa sabiam quem ela era desde o primeiro dia.

Então, quando o programa começara, e todos os outros estudantes começaram a aprender sobre computadores, peritos e outros assuntos menos interessantes, Riley havia parado o mortal Palhaço Assassino. Ambos os casos haviam sido traumáticos e ameaçadores.

Aquele começo especial na “experiência de campo” não a tornara muito popular entre os outros estagiários. Na verdade, ela havia percebido um ressentimento mudo entre eles durante todo o treinamento.

Agora, pelo menos alguns deles a invejavam por entrar na Academia.

Se eles soubessem tudo o que eu passei, pensou.

Riley duvidada que eles a invejariam.

Sentiu medo e culpa ao lembrar das duas amigas sendo mortas na Lanton, e desejou que pudesse voltar no tempo e evitar aquilo. Não só suas amigas ainda estariam vivas, mas sua própria vida seria completamente diferente. Teria um diploma de psicologia e algum trabalho comum, além da incerteza do que faria pelo resto da vida.

E Ryan estaria perfeitamente feliz comigo.

Mas Riley duvidava que estaria feliz. Ela não sentira paixão por nenhuma carreira até que a possibilidade de ser uma agente do FBI tinha aparecido—mesmo sentindo que essa carreira havia a escolhido, e não o contrário.

Quando as três filas de estagiários estavam perfeitamente posadas, Hoke Gilmer fez uma piada para fazer todos rirem enquanto o fotógrafo tirava as fotos. Riley não estava nenhum pouco bem humorada, então não achou a piada muito engraçada. Ela tinha certeza de que seu sorriso sairia forçado e falso na foto.

Também sentiu-se insegura com seu terninho, que havia comprado meses antes em um brechó. A maioria dos outros alunos tinha uma vida financeira melhor do que a dela, e estavam muito mais bem vestidos. Definitivamente, ela não estava ansiosa por ver aquela foto.

Depois, o grupo se desfez para aproveitar os salgados e refrigerantes colocados em outra mesa, no meio da sala. Todos formaram grupos e, como sempre, Riley se sentiu isolada.

Percebeu que Natalia Embry estava se engraçando para Rollin Sloan, um aluno que iria diretamente para um emprego de salário alto, como analista de dados, em um grande escritório no meio-oeste.

Riley ouviu uma voz a seu lado.

- É, parece que a Natalie conseguiu o que ela queria aqui, ein?

Riley virou-se e viu John Welch a seu lado. Ela riu e respondeu:

- Ah, John. Você não está sendo um pouco malvado?

John encolheu os ombros e disse:

- Vai dizer que eu estou errado?

Riley olhou novamente para Natalie, que estava mostrando seu novo anel de noivado para alguém.

- Não, acho que não – Riley respondeu.

Natalie não parara de mostrar aquele anel para todo mundo, desde que Rollin havia lhe dado, dias antes. Aquele romance evoluíra rápido—ela e Rolling sequer se conheciam antes de entrarem no programa de verão.

John deixou escapar um suspiro falso de simpatia.

- Pobre Rollin – disse. – Só pela graça de Deus.

Riley riu alto. Ela sabia exatamente o que John queria dizer. Desde o primeiro dia do programa, Natalie estivera procurando um noivo. Havia inclusive tentado com John, até que ele deixara claro que não gostava dela.

Riley perguntou-se—será que Natalie chegou a estar interessada no programa? Apesar de tudo, ela havia sido inteligente o suficiente para ser aceita naquele programa de honra.

Provavelmente não, deu-se conta.

Natalie parecia ter entrado no programa pela mesma razão pela qual algumas amigas de Riley haviam ido para a faculdade—para conseguir um marido de sucesso.

Riley tentou imaginar como seria uma vida com as prioridades de Natalie. As coisas com certeza seriam mais simples, pelo menos, e as decisões seriam mais claras.

Encontrar um homem, se mudar para um boa casa, ter filhos...

Riley não pode deixar de invejar, pelo menos, a estabilidade de Natalie.

Mesmo assim, sabia que viveria entediada com uma vida assim—e era exatamente por isso que as coisas não andavam bem entre ela e Ryan naquele momento.

Então, John disse:

- Imagino que você vá direto para Quantico depois daqui.

- Sim. Você também, certo?

John concordou. Riley sentiu-se animada ao pensar que ela e John estavam entre os poucos alunos que continuariam na Academia do FBI.

A maioria dos outros estagiários procuraria outras possibilidades. Alguns iriam fazer faculdade em campos que haviam atraído sua atenção durante o programa. Outros começariam em seus novos trabalhos, em laboratórios ou escritórios ali mesmo, no Hoover Building ou em sedes de outras cidades. Eles começariam carreiras no FBI como cientistas da computação, analistas de dados, técnicos—trabalhos com horários regulares que não levavam a situações que colocavam a vida em risco.

Trabalhos que Ryan aprovaria, Riley pensou, melancólica.

Ela quase perguntou para John como ele iria para Quantico. Mas já sabia—ele iria dirigindo seu carro caro. Riley quase considerou pedir uma carona. Afinal, economizaria dinheiro tanto do táxi quanto do trem.

Mas ela não conseguiu fazer isso. Não queria admitir para John que Ryan não a levaria sequer até a estação. John era um cara esperto, e com certeza perceberia que as coisas não estavam bem entre ela e Ryan. Preferiu não falar sobre aquilo—pelo menos não naquele momento.

Ao seguir conversando com John, Riley não pode deixar de notar novamente o quão atraente ele era—atlético, com cabelo curto e um lindo sorriso.

Ele era bem de vida e estava usando um terno caro, mas Riley não via sua riqueza como um ponto negativo. Seus pais eram advogados de sucesso em Washington, muito envolvidos em política, e Riley admirava a escolha de John por uma vida mais humilde, dedicada aos serviços da lei.

Ele era um cara legal, um idealista de verdade, e Riley gostava muito dele. Eles haviam trabalhado juntos para resolver o caso do Palhaço Assassino, comunicando-se secretamente com o assassino para tirá-lo de seu esconderijo.

Parada perto dele e apreciando aquele sorriso e a conversa, Riley imaginou como a amizade entre os dois aumentaria na Academia.

Definitivamente, eles passariam muito tempo juntos.

E eu vou estar longe do Ryan...

Alertou a si mesma para não deixar que sua imaginação fosse tão longe. Provavelmente, os problemas com Ryan eram apenas temporários. Talvez o que eles precisavam era de um tempo separados, para lembrá-los porque haviam se apaixonado lá no início.

Os estagiários terminaram de comer e começaram a ir embora. John acenou para Riley ao sair, e ela sorriu e devolveu o aceno. Ainda ao lado de Rollin, Natalie seguiu mostrando seu anel no caminho para a porta.

Riley disse tchau para Hoke Gilmer, o supervisor do treinamento, e para o diretor assistente Marion Connor. Ambos haviam discursado para os alunos um pouco antes. Depois, ela saiu da sala de recepções e seguiu para o vestiário, para pegar sua mala.

Encontrou-se sozinha no vestiário grande e vazio. Olhou em volta, melancólica. A sala era onde todos os alunos juntavam-se para as reuniões durante o verão. Duvidou que voltaria a pisar naquele lugar.

Ela sentiria falta do programa? Não tinha certeza. Havia aprendido muito, e gostara da experiência como estagiária. Mas sabia que com certeza era hora de dar um passo a frente.

Então por que estou triste? Perguntou-se.

Rapidamente, deu-se conta de que o motivo era como as coisas estavam com Ryan. Lembrou-se de suas palavras ríspidas na noite anterior, antes de ir para a cama.

Aproveite o resto do jantar. Tem cheesecake na geladeira. Estou cansada. Vou tomar banho e deitar.

Eles não haviam conversado desde então. Ryan acordara e saíra para trabalhar antes que Riley tivesse aberto os olhos naquela manhã.

Riley desejou nunca ter falado com ele daquela maneira. Mas qual escolha ele havia lhe deixado? Ele não tinha sido muito sensível com os sentimentos e sonhos dela.

O peso do anel de noivado parecia estranho em seu dedo. Riley segurou sua mão em frente ao rosto e olhou. Ao ver a joia modesta, porém linda, brilhando sob a luz fluorescente do teto, lembrou-se do momento lindo em que Ryan a pedira em casamento.

Parecia ter sido há tanto tempo.

Depois da discussão da noite anterior, Riley perguntou-se—eles ainda estavam noivos? A relação tinha acabado? Eles haviam terminado sem dizer essas palavras? Seria hora dela seguir em frente, como já havia feito com outros caras? Ryan estaria pronto para seguir em frente?

Por um momento, brincou com a ideia de não pegar o táxi e o trem para Quantico—pelo menos não naquele momento. Talvez não fosse atrapalhá-la chegar um dia atrasada para as aulas. Talvez ela pudesse conversar com Ryan novamente quando ele chegasse do trabalho. Talvez eles pudessem deixar tudo certo.

Mas então, ela rapidamente percebeu...

Se eu voltar para o apartamento agora, talvez eu nunca vá para Quantico.

Teve um calafrio só de pensar.

De certa forma, ela sabia que seu destino a esperava em Quantico, e ela não ousaria perdê-lo.

É agora ou nunca, pensou.

Pegou sua mala e saiu do prédio, para então pegar um táxi com destino à estação de trem.

CAPÍTULO QUATRO

Guy Dafoe não gostava de acordar cedo de manhã. Mas pelo menos agora, ele estava trabalhando duro para cuidar do seu próprio gado, e não do rebanho de outros donos. Acordar cedo pelo menos parecia ser um esforço que valia a pena agora.

O sol estava nascendo, e ele sabia que aquele seria um lindo dia. Amava o cheiro do campo e os sons do gado.

Passara muitos anos trabalhando em fazendas e rebanhos maiores. Mas aquela era sua própria terra, seus próprios animais. E ele estava alimentando os animais do jeito certo, sem criá-los artificialmente, com hormônios. Aquilo era um desperdício, e os gados criados assim viviam vidas miseráveis. Ele se sentia bem com o que estava fazendo.

Juntara todas as suas economias para comprar aquela fazenda e alguns gados para começar. Sabia que o risco era grande, mas tinha fé em um futuro próspero na venda de gados alimentados à base de mato. Aquele era um mercado em crescimento.

Os bezerros novos estavam agrupados ao redor do celeiro, onde ele havia os colocado na noite anterior para verificar sua saúde e desenvolvimento. Eles o olhavam e mugiam baixo, como se esperassem pelo dono.

Ele tinha orgulho de sua pequena leva de Black Angus, e às vezes precisava resistir à tentação de apaixonar-se por eles, como se fossem animais de estimação. Aqueles eram animais para consumo, afinal de contas. Seria uma má ideia desenvolver um sentimento individual por qualquer um deles.

Naquele dia, ele queria levar os bezerros ao pasto na beira da estrada. O campo onde eles estavam estava com a grama baixa, e o pasto na beira da estrada estava pronto para ser consumido.

Assim que abriu o portão, percebeu algo estranho do outro lado do pasto. Parecia algum tipo de emaranhado ou pacote perto da estrada.

Resmungou em voz alta...

- Seja o que for, provavelmente não é coisa boa.

Passou pelo portão e voltou a fechá-lo, deixando os bezerros onde estavam. Não queria tirar seus animais dali até descobrir o que ela aquele objeto estranho.

Ao cruzar o campo, ficou mais intrigado. Aquilo parecia um grande emaranhado de arame farpado, pendurado em um poste. Aquele rolo teria batido no caminhão de alguém e terminado ali de alguma forma?

Mas ao chegar mais perto, ele viu que não se tratava de um rolo novo. Era um emaranhado de arame velho, apontado para todas as direções.

Não fazia sentido nenhum.

Quando chegou ao pacote e olhou de perto, percebeu que havia algo dentro.

Inclinou-se em direção ao objeto, olhou, e sentiu um arrepio aterrorizante.

- Cacete! – Gritou, pulando para trás.

Mas talvez fosse só sua imaginação. Forçou-se a olhar novamente.

E ali estava—o rosto de uma mulher, branco e machucado, contorcido em agonia.

Pegou o arame para tirá-lo do rosto dela, mas rapidamente parou.

Não vai adiantar nada, percebeu. Ela está morta.

Cambaleou até o poste seguinte, encostou-se e vomitou.

Seja forte, disse a si mesmo.

Ele precisava ligar para a polícia—já.

Cambaleando, começou a correr em direção a sua casa.

CAPÍTULO CINCO

O agente especial Jake Crivaro estava sentado quando o telefone de seu escritório tocou.

As coisas estavam muito calmas em Quantico desde que ele voltara, no dia anterior.

Naquele momento, sua intuição imediatamente lhe disse...

É um caso novo.

De fato, quando atendeu o telefone, escutou a sonora voz do Agente Especial em Comando Erik Lehl.

- Crivaro, preciso de você no meu escritório agora.

- É para já, senhor – Crivaro disse.

Ele desligou o telefone e pegou sua bolsa, que sempre deixava pronta. O Agente Lehl fora mais direto do que o normal, o que com certeza significava urgência. Crivaro tinha certeza de que teria que ir para algum lugar logo—provavelmente na próxima hora.

Sentiu seu coração batendo um pouco mais rápido ao se apressar pelo corredor. Era um sentimento bom. Depois de dez semanas servindo como mentor no Programa de Honra de Estágio do FBI, aquelas eram as boas-vindas à normalidade.

Durante os primeiro dias do programa de verão, ele fora afastado por um caso de assassinato—o notório “Palhaço Assassino”. Depois disso, havia sido colocado na função de ser o mentor de apenas um dos estagiários—uma jovem talentosa, mas enfurecida, chamada Riley Sweeney, que havia sido brilhante o ajudando no caso.

Mesmo assim, o programa havia passado muito devagar para ele. Não estava acostumado a passar tanto tempo longe do campo.

Quando Jake entrou no escritório de Lehl, o homem esguio levantou-se da cadeira para cumprimentá-lo. Erik Lehl era tão alto que mal parecia caber nos espaços que frequentava. Outros agentes diziam que ele parecia estar sempre vestindo pernas de pau. Para Jake, parecia mais que ele era feito de pernas de pau—algo montado em madeira que parecia coordenar perfeitamente com seus movimentos. Tamanho a parte, aquele homem fora um agente excelente e havia conquistado seu posto na Unidade de Análise Comportamental do FBI.

- Nem perca tempo em sentar, Crivaro – Lehl disse. – Você já vai sair.

Jake manteve-se em pé, obediente.

Lehl olhou para a pasta de papel pardo que segurava e soltou um suspiro pesado. Jake já havia percebido, há tempos, a tendência de Lehl de levar todos os casos ao extremo—inclusive pessoalmente, como se ele fosse sempre diretamente insultado por qualquer tipo de monstruosidade criminosa.

Jake não conseguia se lembrar de ter encontrado Lehl de bom humor.

Afinal de contas...

Nós lidamos com monstros.

E Jake sabia que Lehl não o colocaria naquele caso se não fosse algo realmente hediondo. Jake era especialista em casos que desafiavam a imaginação humana.

Lehl deu a pasta para Jake e disse:

- Temos uma situação horrível em West Virginia. Veja.

Jake abriu a pasta e viu uma foto em preto e branco de um pacote estranho, preso por fita adesiva e arame farpado. O pacote estava pendurado em um poste. Jake levou um momento para perceber que o pacote tinha um rosto e mãos—e que na verdade tratava-se de uma mulher, obviamente morta.

Jake respirou fundo.

Até para ele, aquilo era bizarro demais.

Lehl explicou:

- A foto foi tirada cerca de um mês atrás. O corpo de uma funcionária de um salão de beleza chamada Alice Gibson foi encontrado envolto em arame farpado e pendurado em um poste em uma estrada rural perto de Hyland, em West Virginia.

- Que coisa nojenta – Jake disse. – Como os tiras locais estão lidando com isso?

- Eles têm um suspeito sob custódia – Lehl disse.

Os olhos de Jake se arregalaram de surpresa.

- Então o que faz com que esse seja um caso para o FBI?

- Acabamos de receber uma ligação do chefe de polícia de Dighton, uma cidade perto de Hyland. Outro corpo empacotado como esse foi encontrado hoje de manhã, pendurado em um poste em uma estrada rural.

Jake estava começando a entender. Estar preso no momento do segundo assassinato dava ao suspeito um excelente álibi. E, pelo jeito, parecia que havia um assassino em série que estava apenas começando. Lehl continuou:

- Já dei ordens para não mexerem na cena do crime. Então você precisa ir para lá já. Seriam quatro horas dirigindo, então já coloquei um helicóptero esperando por você na pista de pouso.

Jake estava se virando para sair da sala quando Lehl acrescentou:

- Você quer que eu te dê um parceiro?

Jake voltou a se virar e olhou para Lehl. De certa forma, ele não estava esperando aquela pergunta.

- Não preciso de um parceiro – Jake disse. – Mas vou precisar de uma equipe de peritos. Os tiras na área rural de West Virginia não vão saber como ler a cena do jeito certo.

Lehl concordou e disse:

- Vou montar sua equipe agora mesmo. Eles vão voar com você.

Quando Jake estava saindo pela porta, Lehl disse:

- Agente Crivaro, mais cedo ou mais tarde você vai precisar de outro parceiro.

Jake encolheu os ombros de um jeito estranho e respondeu:

- Se você diz, senhor, tudo bem.

Com uma pitada de reclamação na voz, Lehl respondeu:

- Eu digo. Já é hora de você aprender a lidar bem com os outros.

Jake olhou para ele, surpreso. Era raro que Erik Lehl, um homem de poucas palavras, dissesse mais do que o essencial.

Pelo jeito ele acha mesmo isso, Jake percebeu.

Sem dizer mais nada, Jake saiu da sala e caminhou pelo prédio. Ao caminhar rapidamente, pensou no que Lehl dissera sobre ele ter um novo parceiro. Jake era muito conhecido por ser ríspido no trabalho em campo. Mas ele acreditava que não era duro demais com ninguém, a não ser que a pessoa merecesse.

Seu último parceiro regular, Gus Bollinger, certamente merecera. Ele havia sido demitido por estragar as digitais de uma evidência essencial em um caso chamado “Assassino da Caixa de Fósforos”.

Como consequência, o caso havia esfriado—e Jake odiava casos frios mais do que tudo.

No caso do Palhaço Assassino, Jake trabalhara com um agente de Washington, chamado Mark McCune. McCune não fora tão ruim quanto Bollinger, mas cometera erros estúpidos demais para o gosto de Jake. Ele agradecera pelo fato de a parceria ter durado apenas um caso e de McCune ter ficado na capital.

Ao chegar ao local onde o helicóptero estava esperando, pensou em mais alguém com quem havia trabalhado recentemente.

Riley Sweeney.

Ele havia ficado impressionado com ela desde que Sweeney, uma estudante de psicologia, o ajudara a resolver o caso do assassino da Lanton University. Quando ela se formou, ele mexeu seus pauzinhos e irritou alguns colegas para colocá-la no Programa de Estágio de Honra. E talvez contra sua própria vontade, havia pedido ajuda a ela no caso do Palhaço Assassino.

Sweeney tinha feito um trabalho brilhante. Mas também cometera erros gritantes e estava longe de aprender a obedecer ordens. No entanto, ele conhecia poucos agentes com uma intuição tão poderosa.

Um deles era ele próprio.

Quando Jake abaixou-se sob as hélices e subiu no helicóptero, ele viu a equipe de quatro homens da perícia correndo pela pista. Todos eles subiram, e o helicóptero decolou.

Parecia bobo pensar em Riley Sweeney naquele momento. Quantico era uma base gigante, e mesmo com ela estando na Academia do FBI, seus caminhos provavelmente não se cruzariam novamente.

Jake abriu a pasta para ler novamente o relatório da polícia.

*

Depois de ter passado pelas montanhas apalaches, o helicóptero sobrevoou vários pastos, lotados de gados Black Angus. Quando começou a descer, Jake pode ver onde as viaturas haviam bloqueado um trecho da estrada de cascalho, para manter os curiosos longe da cena do crime.

O helicóptero pousou em um pasto. Jake e os peritos saíram e seguiram em direção a um pequeno grupo de pessoas uniformizadas e várias viaturas e veículos oficiais.

Os policiais e a equipe de examinadores médicos estavam dos dois lados da cerca de arame farpado que seguia pela estrada, na beira do pasto. Jake pode ver o que parecia ser um feixe de arame enrolado, pendurado em um poste.

Um homem pequeno e forte, da altura de Jake e musculoso, deu um passo a frente para cumprimentá-lo.

- Sou Graham Messenger, o comandante da polícia aqui de Dighton – ele disse, apertando a mão de Jake. – Tivemos alguns incidentes terríveis por aqui. Deixe-me lhe mostrar.

O comandante seguiu até o poste e, ali, um estranho pacote estava pendurado, todo enrolado em fita adesiva e arame farpado. Novamente, Jake pode ver um rosto e as mãos, indicando que o pacote na verdade era o corpo de um ser humano. Messenger disse:

- Imagino que você já saiba sobre Alice Gibson, a outra vítima, de Hyland. Isso aqui parece a mesma coisa. Dessa vez, a vítima se chama Hope Nelson.

Crivaro disse:

- Alguém deu queixa do desaparecimento dela antes do corpo ser encontrado?

- Sim, deram sim – Messenger disse, apontando em direção a um homem de meia idade, que parecia atordoado, e estava parado próximo às viaturas. – Hope era casada com Mason Nelson, aquele homem ali—o prefeito da cidade. Ela estava trabalhando no mercado local deles ontem à noite, mas não voltou para casa como Mason esperava. Ele me ligou no meio da noite, muito assustado.

O comandante encolheu os ombros, demonstrando culpa.

- Bom, eu estou acostumado com pessoas desaparecendo e depois aparecendo novamente. Eu disse ao Mason que iria atrás disso hoje se ela não aparecesse. Eu não tinha ideia de...

A voz de Messenger travou. Então, ele suspirou, balançou a cabeça e acrescentou:

- Os Nelson são donos de muitas propriedades aqui em Dighton. Sempre foram pessoas boas e respeitadas. A pobre Hope não merecia isso. Bom, acho que ninguém merece.

Outro homem aproximou-se deles. Ele tinha um rosto comprido, mais velho, cabelos brancos e um bigode espesso. O comandante Messenger o apresentou como Hamish Cross, o líder da equipe de examinadores médicos. Mastigando um pedaço de erva, Cross parecia relaxado e pouco curioso com o que estava acontecendo. Ele perguntou a Jake:

- Você já viu algo assim antes?

Jake não respondeu. A resposta, é claro, era não.

Jake aproximou-se do pacote e examinou mais de perto. Ele disse a Cross:

- Imagino que você tenha trabalhado no outro assassinato.

Cross assentiu, aproximou-se de Jake e girou a erva em sua boca.

- Sim – Cross disse. – E esse aqui é muito parecido. Ela não morreu aqui, isso está claro. Foi raptada, amarrada primeiro com fita adesiva e depois com arame farpado, e sangrou devagar, até a morte. Ou isso, ou foi sufocada antes. Amarrada com tanta força assim, ela não devia estar conseguindo nem respirar direito. Tudo isso aconteceu em outro lugar—não tem nenhum sinal de sangue aqui.

299 ₽
Возрастное ограничение:
16+
Дата выхода на Литрес:
10 октября 2019
Объем:
231 стр. 3 иллюстрации
ISBN:
9781640299672
Правообладатель:
Lukeman Literary Management Ltd
Формат скачивания:
epub, fb2, fb3, ios.epub, mobi, pdf, txt, zip

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