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Levada pelos seus parceiros
Programa Interestelar de Noivas: Livro 5
Grace Goodwin
Levada pelos seus parceiros
Copyright © 2020 Grace Goodwin
Publicado por Grace Goodwin pela KSA Publishing Consultants, Inc.
Capa: KSA Publishing Consultants, Inc.
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Aviso sobre a tradução: algumas expressões e piadas são quase impossíveis de serem traduzidas ipsis litteris para o Português. Portanto, a tradução foi feita para manter a expressão/sentença o mais próximo possível do idioma original.
Esta é uma obra de ficção, com o intuito apenas de entreter o leitor. Falas, ações e pensamentos de alguns personagens não condizem com os pensamentos da autora e/ou editor. O livro contém descrições eróticas explícitas, cenas gráficas de violência física, verbal e linguajar indevido. Indicado para maiores de 18 anos.
Contents
Chapter 1
Chapter 2
Chapter 3
Chapter 4
Chapter 5
Chapter 6
Chapter 7
Chapter 8
Chapter 9
Chapter 10
Chapter 11
Chapter 12
Chapter 13
Chapter 14
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Sobre A Autora
1
Jessica Smith, Centro de Processamento Interestelar de Noivas, Terra
O odor sombrio e almiscarado da pele do meu amante invadiu os meus sentidos enquanto eu pressionava o meu rosto contra a curva do seu pescoço. Eu estava vendada, mas conhecia-o bem. Eu não precisava ver para saber que ele era meu. Eu conhecia o seu toque. Conhecia o deslizar suave dos seus cabelos dourados por debaixo das pontas dos meus dedos e a sensação do seu pau enorme abrindo-me enquanto ele me fodia com força e rápido. Eu conhecia a força dos seus braços que me levantavam pegando-me pela cintura e pousavam o meu núcleo molhado sobre ele, eu sabia que ele me penetraria bem fundo e que eu gritaria o seu nome quando ele finalmente me permitisse gozar.
Envolvi as minhas pernas ao redor de seus quadris e atirei a minha cabeça para trás enquanto ele me preenchia completamente. Destemido e forte, ele era o verdadeiro guerreiro que eu sabia que era.
Ele subia e descia o meu corpo, libertando-me para que eu deslizasse sobre o seu pau comprido. Outro par de mãos, as mãos carinhosas do meu segundo parceiro, acariciavam o colar ao redor do meu pescoço. Eu conhecia a sensação das suas mãos, sabia que ele conseguia ser meigo e carinhoso num momento, e indestrutível e exigente no outro.
Eu sabia que os satisfazia bastante com a vista da minha boceta totalmente aberta para eles e do meu traseiro à disposição deles. O desejo dele ganhou vida dentro da minha mente através da ligação psíquica fornecida pelo colar. Mas o que me deixava verdadeiramente louca era o calor úmido que se acumulava no meu núcleo enquanto o meu primeiro parceiro entrava bem fundo dentro de mim. Apertei-o com os meus músculos internos, a sua carência tornava clara a urgência das suas investidas selvagens.
Eu conseguia sentir as emoções deles tanto quanto os seus desejos físicos; a ligação criada pelos colares que nós três usávamos era profunda e totalmente desprotegida. Não havia mentiras, não havia o negar de desejos, vontades ou necessidades. Só havia verdade, amor e prazer. Tanto prazer.
— Aceita o meu pedido, parceira? Entrega-se, livremente, a mim e ao segundo parceiro ou quer escolher outro macho primário?
A voz profunda exigia uma resposta, criando em mim um tremor que percorria a minha pele e fazia com que a minha boceta comprimisse o pau dele com uma força quase brutal. Ele gemeu com carência e eu mordi o meu lábio para conter um sorriso de satisfação. O meu parceiro primário tinha o direito de tomar a minha boceta até que eu engravidasse, mas o meu segundo? Ele tinha esperado, garantindo pacientemente que o meu corpo estivesse pronto para ser preenchido pelos meus dois parceiros ao mesmo tempo.
Não estando disposto a esperar por uma resposta, o meu segundo parceiro beijou a parte de trás do meu ombro, com uma mão roçando no meu traseiro, com uma proximidade perigosa ao lugar obscuro que ele iria tomar. A sua outra mão envolvia o meu pescoço com uma pressão suave que me fazia sentir impotente, fraca e totalmente à sua mercê. — Quer que nós dois te fodamos, amor? Ou não?
A minha boceta ficou novamente apertada e meu parceiro primário praguejou, empurrando-me para baixo na direção do seu pau com uma intensidade firme que eu tinha começado a desejar.
— Sim. Eu aceito o pedido de vocês, guerreiros. — As palavras formais deslizaram para fora dos meus lábios com um suspiro e eu inclinei meus quadris para roçar o meu clítoris contra o corpo do parceiro primário ao mesmo tempo que oferecia o meu traseiro ao meu segundo. — Eu quero os dois. E quero agora.
As palavras irromperam para fora da minha garganta, mas elas não eram minhas. Eu não tinha controle sobre a mulher cujos sentidos eu partilhava, eu só conseguia observar, e ouvir… e sentir.
O meu parceiro primário imobilizou-se sob mim e eu me queixei ao perceber que me eram negadas as investidas ferozes do seu pau contra a minha boceta ávida. — Eu te tomo através do ritual de nomeação. Você é minha e matarei qualquer outro guerreiro que ousar tocar em ti.
Eu não me importava quem ele precisasse matar, eu só queria que ele me fizesse sua para sempre.
O meu segundo parceiro continuou a me beijar, descendo pela minha coluna, as suas próximas palavras não eram exigidas pelo ritual, mas elas eram para mim. Só para mim.
— Você é minha, parceira. Eu matarei qualquer outro guerreiro que ousar olhar para ti. — Ao dizer aquelas palavras, ele começou a introduzir o seu dedo bem lubrificado na minha entrada traseira e eu gritei. A nossa primeira vez seria rápida, visto que as nossas paixões se inflamavam com demasiado calor para nos demorarmos muito mais.
Eu queria que eles me fodessem, me preenchessem com o seu sêmen. E, depois, eu queria os meus parceiros de volta para os nossos aposentos, nus e completamente sozinhos. Eu queria demorar-me com eles. Queria roçar em todo o corpo deles, foder, provar e explorar até que os nossos odores se mesclassem num só, até que o meu corpo estivesse muito dolorido para desfrutar de mais diversão.
Aquele pensamento trouxe-me de volta para mim mesma por um instante e eu percebi que os três amantes não estavam sozinhos no quarto. Vozes masculinas preencheram os cantos da minha consciência com um cântico suave. Eu tinha me focado tanto nos meus parceiros que os ignorei completamente, até agora, quando as suas vozes conjuntas se elevaram para preencher a sala enquanto eles falavam em uníssono.
— Que os deuses sirvam de testemunha e te protejam.
Quando o meu segundo parceiro deslizou o seu dedo para fora da minha entrada traseira e cutucou o meu buraco virgem com a cabeça larga do seu pau, os outros foram totalmente esquecidos. Quando ele deu uma investida para frente e alargou-me mais… e mais… e mais, ainda com dois paus preenchendo-me, eu soube que estava sendo verdadeiramente tomada.
— Srtª Smith.
Não, aquela não era a voz de nenhum dos meus parceiros. Esmaguei mentalmente aquela voz.
— Srtª Smith.
A voz voltou. Era a voz de uma mulher, de uma mulher austera.
— Jessica Smith!
Naquele momento sobressaltei-me, a minha mente foi arrancada daqueles dois homens que me cercavam para… não, não havia homens cercando-me. Eu estava na sala de processamento. Não tinha um pau no meu traseiro ou na minha boceta. Não tinha dois corpos fortes cercando-me. Eu não conseguia sentir o seu calor ou inalar o seu odor poderoso. O peso do colar deles não estava sobre o meu pescoço.
Abri os meus olhos e pisquei-os. Uma, duas vezes. Oh, sim. A Guardiã Egara. Uma mulher rígida e formal pairava sobre mim.
— O seu exame está concluído e o seu emparelhamento já foi feito.
Lambi os meus lábios secos e tentei acalmar o meu coração acelerado. Ainda conseguia sentir os homens, mas a sensação estava se dissipando rapidamente. Eu queria ir até eles e agarrá-los, agarrar-me a eles como se a minha vida dependesse disso. Aquela era a primeira vez que eu me sentia segura e protegida, estimada e desejada. Eles nem sequer eram meus.
Então, eu ri de forma seca e a Guardiã elevou a sua sobrancelha escura.
A única vez que eu me senti segura foi num sonho. A realidade, sim. A realidade era uma merda.
— Acabou? — Perguntei. A minha voz estava um pouco áspera, como se tivesse gritado de prazer enquanto sonhava. Céus, espero que não. A sensação era como a de ressonar com um namorado novo, só que muito pior. Muito, muito pior.
Ela deve ter ficado satisfeita com o que quer que tenha visto no meu rosto, porque acenou uma vez, depois, deu a volta ao redor de uma mesa simples para sentar. Embora ela tivesse sentado numa cadeira metálica modesta, eu ainda estava presa à cadeira de processamento, vestida com uma bata de estilo hospitalar simples com o logotipo do Programa Interestelar de Noivas repetido ao longo do tecido cinzento, num padrão. Olhando para baixo, eu conseguia ver os meus mamilos, duros e eretos, através do tecido fino. Não havia dúvidas de que a Guardiã também os via, mas ela não disse nada.
— Para que conste, diga o seu nome, por favor.
— Jessica Smith. — Contorci-me na cadeira, apercebendo-me de que o meu robe estava molhado por debaixo de mim.
— Srtª Smith, é ou alguma vez já foi casada?
— Não.
— Tem algum filho biológico?
— Você já sabe as respostas para isto.
— Sim, mas é obrigatório ter uma gravação verbal efetuada antes do transporte. Responda à pergunta.
— Não, eu não tenho nenhum filho.
Ela clicava algumas vezes na tela sem olhar para mim. — Devo informá-la, Srtª Smith, que tem trinta dias para aceitar ou rejeitar o parceiro escolhido pelos nossos protocolos de emparelhamento. — Ela olhou para mim. — Você é a terceira mulher da Terra a ser emparelhada com este planeta. Hmm.
Eu tinha as minhas dúvidas quanto ao exame e quanto a ser verdadeiramente emparelhada. Eu não tinha encontrado nenhum homem na Terra que se interessasse por mim, portanto, era um pouco deprimente o fato de eu ter de procurar por todo o universo para encontrar alguém.
Mas, então, por que é que no sonho do meu exame havia dois homens? O que havia de errado comigo para eu ter sonhado com aquilo? O meu parceiro certamente não ficaria entusiasmado por saber que eu tinha tido sonhos eróticos com alguém que não ele.
— Não poderá regressar para a Terra se não estiver satisfeita. Poderá pedir por um novo parceiro principal após trinta dias… em Prillon Prime. Deverá continuar este processo até encontrar um parceiro que seja aceitável.
— Prillon Prime?
Eu nunca tinha ouvido falar dele, mas isso não importava muito. Eu não tinha ouvido falar de muitos dos outros planetas ou sobre as raças que os habitavam. Eu estava muito ocupada com o meu trabalho e com a minha vida na Terra para sequer pensar no espaço. Mas aquilo mudou muito rápido.
— Sinto-me como se fosse uma prisioneira. Há algum motivo para eu ainda estar algemada? — Flexionei os meus pulsos e fechei as minhas mãos em punhos.
— Muitas das nossas voluntárias, como sabe, são prisioneiras.
— Então, elas não são voluntárias de verdade. — rebati.
Ela franziu os lábios. — Não vou discutir semântica contigo, Srtª Smith, mas com a sua experiência militar, deve estar ciente de que por vezes uma pessoa deve ser algemada para o seu próprio bem. Durante os exames, as mulheres muitas vezes ficam… agitadas. E nós temos de garantir a sua segurança.
— E agora? — Perguntei.
Ela olhou para os meus punhos. — Agora, servem para mantê-la quieta para qualquer preparação ou modificação corporal que possa ser necessária antes da transferência.
— Modificações corporais? Guardiã, tire estas algemas imediatamente. — Eu consegui ouvir o pico árduo da minha voz e esperava que ela soubesse que eu não estava brincando.
Ela nem sequer se moveu. — Não se preocupe, estará inconsciente durante o processo. Você já assinou os documentos e o emparelhamento já foi feito, Srtª Smith. Por esse motivo, você já não é uma cidadã da Terra, mas sim, uma noiva de um guerreiro de Prillon Prime, e, como tal, está sujeita às leis e aos hábitos do seu novo mundo.
— Incluindo ser algemada?
Ela inclinou a cabeça para o lado. — Se isso for o que o seu parceiro deseja.
— Eu não quero ser emparelhada com um homem que me amarre!
— Jessica, você foi emparelhada com um guerreiro feroz desse mundo. Você deveria se orgulhar por ter o privilégio de se submeter a ele.
— Pensa que só por ele ser um soldado eu devo me vergar perante ele? Então, eu era o quê? Eu lutei. Eu matei.
A Guardiã parou e deu a volta à mesa.
— Eu sei, mas por vezes é bastante difícil para mulheres tão fortes como você encontrar um parceiro dominador o suficiente para lidar com as suas… hummm… necessidades.
Oh, céus, ela estava corando? A Guardiã de lábios rígidos subiu três tons de vermelho. Do que raios ela falava?
— Lembre-se, Jessica, ele também foi emparelhado contigo. Ele vai lhe dar aquilo de que precisar. É o direito dele, dever, e mais importante do que isso, privilégio. — Ela, então, sorriu, com um ar saudoso no seu olhar. — Já não terá de se esconder. Vai lutar contra ele, eu consigo ver isso, mas prometo que ele valerá o preço que terá que pagar.
— Que preço? — Para onde raios é que ela ia me enviar? Eu não tinha concordado quanto a ser dominada por homem algum. A minha boceta comprimiu-se ao me lembrar da força da mão que estava ao redor do meu pescoço na simulação do processamento, mas ainda estava para ver homem forte o suficiente para me tomar, para vergar a minha vontade. Eu duvidava que existisse um homem assim.
— Renda-se. — Enquanto ela falava, pressionou o botão perto dos pés da minha cadeira e uma abertura num azul resplandecente apareceu na lateral da parede. Ainda presa, de forma segura, eu não pude fazer nada enquanto uma agulha larga e longa aparecia e eu tentei me contorcer, lutar contra, mas não conseguia me mexer. A agulha estava ligada a um enorme braço metálico na parede.
— Não resista, Jessica. Não vamos te machucar. O dispositivo vai simplesmente implantar suas UNPs permanentes.
A agulha picou ao ser inserida na lateral da minha têmpora, mas nada mais. Outra surgiu na parede oposta e repetiu a tarefa na minha outra têmpora. Eu não me sentia diferente, portanto, respirei fundo. A cadeira desceu, assim como no dentista, mas eu fui inserida numa espécie de banheira. Uma luz azul cercou-me.
— Quando acordar, Jessica Smith, o seu corpo terá sido preparado segundo os costumes de acasalamento de Prillon Prime e segundo os requisitos do seu parceiro. Ele estará à sua espera. — Ela parecia estar num ritual, como se já tivesse dito aquelas mesmas palavras vezes e vezes sem conta.
Prillon Prime. — Agora?
— Sim, agora.
A voz recortada da Guardiã Egara foi a última coisa que eu ouvi além do zumbido silencioso do equipamento elétrico e das luzes. — O seu processamento começará em três… dois…
Eu fiquei tensa, à espera que ela terminasse a contagem decrescente, mas uma luz vermelha acendeu-se sobre mim e ela ergueu a cabeça para o lado, olhando para a tela que eu não conseguia ver.
— Não. Isto não pode estar certo. — O franzir dela transformou-se num ar de choque, depois, confusão, tudo isso enquanto eu esperava naquela maldita banheira azul, nua – quando é que eu fiquei nua e o que tinha acontecido com a minha bata? – e eu me sentia como se estivesse mais ou menos bêbada.
— O que aconteceu?
— Eu não sei, Jessica. Isto nunca tinha acontecido. — Ela olhou com desconfiança para o tablet do programa que estava na sua mão, os seus dedos voavam sobre a tela como se ela escrevesse uma mensagem muito longa e muito complicada.
— O que aconteceu?
Ela abanou a cabeça, os seus olhos estavam redondos e confusos. — Prillon Prime rejeitou o seu transporte.
O que aquilo significava? Rejeitou o meu transporte? O que eles queriam que eu fizesse, que fosse até eles numa nave espacial? Será que o transporte deles, ou o que quer que eles utilizavam como energia, estava avariado? — Não entendo.
— Eu também não. Eles encerraram o protocolo no lado deles. Não vão aceitar a tua chegada ou o teu direito de reivindicar o teu parceiro.
2
Jessica
Algemada à maca, tudo o que eu conseguia fazer era observar enquanto a Guardiã Egara digitava furiosa no seu tablet. Eu debatia-me, tentando libertar-me, mas sabia que as minhas ações eram inúteis. Cada vez que se ouvia um barulho vindo do tablet com uma mensagem recebida, a testa dela ficava mais franzida, os seus dedos se moviam mais rápido, com movimentos curtos e bruscos, como se ela quisesse dar um soco em quem quer que estava falando com ela ao longo da vasta extensão do espaço.
Aprendi a ter paciência da maneira mais dura após ter passado vários anos no serviço militar e, posteriormente, como repórter de investigação. Eu conseguia perseguir uma presa por vários dias e nunca ficar cansada da caça. Sabia qual era o momento de esperar e o momento de atirar primeiro. A agressividade não me faria chegar a lugar nenhum nestas circunstâncias, sobretudo, estando algemada, mesmo que a minha frustração fosse tão grande que eu quisesse arrancar as algemas da cadeira como se fosse o Incrível Hulk.
— Guardiã, por favor, diga-me o que é que está acontecendo.
Sim, assim eu soava calma. Ponto para mim.
A Guardiã mordeu o lábio, de repente pareceu bastante jovem, como sendo a mulher de vinte e tantos anos que ela era. Seus ombros caíram como se carregasse um peso e uma responsabilidade enormes nos ombros. Talvez carregasse mesmo. Era o trabalho dela supervisionar todas as mulheres – independentemente dos motivos – de modo a que elas fossem bem emparelhadas e entregues de forma segura aos seus destinos, onde quer que isso fosse em todo o universo. Quando ela finalmente levantou a cabeça para olhar diretamente para mim, eu soube pela nuvem sombria no seu olhar que as notícias não eram boas, pelo menos para mim.
Um temor sombrio e escorregadio preencheu o meu estômago.
— Eles rejeitaram você, especificamente, não todo o transporte da Terra. — Ela suspirou, e eu me senti como se tivessem acabado de dizer que eu era a garota mais feia do primeiro ano. Sim, a sensação era aquela mesmo, sem tirar nem pôr. Eu já a tinha sentido, várias vezes quando eu era aquela a quem lhe tinha sido negado algo. Amigos, namorados, trabalhos, família. Eu já devia estar habituada àquilo, mas não estava. Aquilo foi o que me tornou estúpida, me fez ter esperança. Eu não tinha percebido o quanto eu queria ser emparelhada com alguém, com alguém que fosse só para mim até aquilo me ser negado. Como de costume.
— Há outro transporte ocorrendo neste momento na nossa Unidade de Processamento de Noivas na Ásia, portanto, não é um problema do nosso sistema. Por algum motivo, não estão permitindo que você vá. A mensagem foi enviada pelo próprio Prime.
O Prime? O que raios era um prime?
— O meu parceiro?
Ela abanou a cabeça despreocupadamente. — Não. O Prime. O governador do planeta deles. O governador de Prillon Prime.
O seu título foi colocado por causa do nome do planeta em si e eu tinha sido rejeitada por ele. Ótimo.
— Tipo o rei deles? — Caramba! O rei deles não ia me permitir reivindicar o meu parceiro? Eu nunca cheguei a conhecer esse parceiro guerreiro com o qual tinha sido emparelhada, mas era o certo ele ser meu e, agora, tinham me negado isso, tinham extinguido o pequeno grão de esperança que havia em mim, sim, aquilo tinha sido esperança. Merda. A esperança que eu tinha carregado no peito tinha se esvaído e morrido. Doeu.
— Sim. Ele é o governante de vários planetas, na verdade, e é o comandante de toda a frota interestelar. — ela resmungou enquanto desviava o olhar, incapaz de olhar nos meus olhos.
Encolhi-me, com a náusea subindo pela garganta ao ouvir as suas palavras. Eu tinha sido rejeitada pelo rei alienígena de todo um planeta? Será que eu era assim tão má? Eu era um pouquinho mandona e, provavelmente, uma chata. Um pouco intensa para uma mulher, mas que mulher que gostava de dar tiros e lutar contra os maus não era? Merda. O Prime queria uma senhorita gentil e empertigada como parceira para um Prillon. Só podia ser por isso. Será que era?
A minha mente estava num transe, eu fiz a única pergunta que poderia ter feito. — Por quê? É por pensarem que sou uma traficante de drogas?
Eu preferia ser rejeitada por ser uma suposta traficante de drogas do que por ser uma molecote.
— Srtª Smith, eles não pensam que é uma traficante de drogas. Eles sabem que é uma traficante de drogas condenada. Mas não, eu já enviei assassinas condenadas para fora do mundo. Eu não sei por que motivo estão fazendo isso.
Ela negou com a cabeça em tristeza e apertou uma série de botões no seu tablet. Levantaram-me um pouco mais da água, o deslizar suave distraía-me enquanto eu olhava para baixo, para o meu corpo, descobrindo que todos os meus pelos tinham desaparecido. A minha cabeça doía terrivelmente devido aos novos implantes que estavam no meu crânio e a minha mente zunia com um barulho parecido com eletricidade estática crepitando um alto-falante.
Enquanto o meu corpo era novamente colocado sobre a cadeira de exame, a Guardiã Egara trazia um cobertor seco e cinzento para me vestir. — Peço imensas desculpas, Jessica. Isto nunca aconteceu. Eu terei de enviar um inquérito formal para a Aliança Interestelar para descobrir o que se deu.
Eu estava nua, água azulada escorria pelo meu corpo, tinha um cobertor áspero sobre mim e ainda estava amarrada àquela maldita maca. Quão mais miserável eu podia ficar? — Quanto tempo vai demorar? — O zunido da minha cabeça aumentou.
— Várias semanas, pelo menos. — As palavras silenciosas dela transformaram-se subitamente numa corneta a poucos centímetros dos meus tímpanos e eu me encolhi.
Ela inclinou a cabeça quando eu me encolhi e deixou-me por um instante, voltando com um tubo de injeção, que ela pressionou contra a lateral do meu pescoço. Eu recuei.
A dor passageira valia a pena, visto que a minha dor de cabeça se dissipou em questão de segundos.
— Peço imensas desculpas pelo seu desconforto. A maioria das noivas dorme durante o processo de integração dos neuroestimuladores. — Ela observava-me, seus olhos eram suaves e redondos, mais carinhosos do que a última vez que os vi. Eu pisquei ao observar aquela mudança, depois, percebi que o que ela me oferecia não era preocupação, era pena. Eu nem sequer conseguia ser enviada para fora do planeta sem que algo corresse mal.
— O que são neuroestimuladores?
— São implantes neurológicos que permitem que a tua mente adote novas línguas e hábitos. Agora, você poderá compreender e falar qualquer língua nova dentro de apenas alguns minutos, incluindo todas as línguas da Terra. Esta tecnologia é destinada apenas àqueles que vão sair do planeta, mas visto que aparentemente você vai ficar, pode acabar por ser uma grande vantagem.
Pisquei os olhos e tentei processar o que ela me dizia. Uma vantagem? Isto era o meu prêmio de consolação, poder falar e compreender outras línguas? — Qualquer língua?
Ela acenou uma vez, claramente satisfeita com a tecnologia, mas também confusa e decepcionada pela minha rejeição. — Com certeza. Da Terra ou da Aliança.
Visto que eu já não ia para um planeta da Aliança, eu não conseguia entender para que aquilo serviria. Eu tinha uma espécie de super-chip na minha cabeça que me permitiria compreender programas de televisão de outros países ou compreender estrangeiros no aeroporto. Ótimo. Aquilo era tudo o que eu sempre sonhei. Eu preferia receber um carro de graça ou uma viagem para o Hawaii. Ou talvez algum dinheiro.
O que teria sido melhor era ser transportada e viver o meu próprio sonho da vida real, tal como no sonho do processamento no qual dois homens poderosos cobriam o meu corpo, fodendo-me como se eu fosse a mulher mais desejável que eles alguma vez conheceram, fazendo-me sentir bonita. Desejada. Amada.
Não. Eu recebi o maldito tradutor mental.
Eu falhei com os meus amigos da agência de notícias, falhei com os meus amigos do serviço policial, falhei em provar a minha inocência no tribunal e, agora, nem sequer era digna de um macho alienígena tão desesperado por uma boceta quente e molhada que aceitariam uma assassina ou ladra como parceira, mesmo sem vê-la primeiro. Mulheres – criminosas – eram enviadas às centenas para o Programa Interestelar de Noivas ao longo dos últimos anos. As mulheres que eram presas e processadas eram de todos os tipos. Viciadas em drogas e traidoras. Ladras e assassinas.
Todas estas mulheres tinham viajado às estrelas, encontrado novos lares e novas vidas com machos alienígenas desesperados por obter noivas através do programa. Aquelas mulheres tinham começado do zero, tinham recebido uma nova oportunidade.
Eu? Eu não. Eu recusei um suborno, fui incriminada por um crime que não cometi e, agora, tinha sido rejeitada não pelo parceiro que foi emparelhado comigo, mas pelo maldito rei de todo um planeta.
Este, certamente, não era o meu melhor dia.
— Agora, o que é que eu faço?
A Guardiã Egara inclinou a cabeça e suspirou. — Bom, o teu serviço voluntário para o programa de noivas era tudo o que era necessário para cumprir com os termos da condenação penal. Visto que nunca ninguém foi rejeitado antes, isto é uma lacuna na qual você caiu e que muito provavelmente será retificada. Presumo que no futuro, uma mulher rejeitada tenha de ir para a prisão. Por agora, não há regras relativas a uma pena alternativa, portanto, cumpriu todos os requisitos da tua sentença.
— Quer dizer que...
— Está livre, Srtª Smith.
Ela levantou a ponta do cobertor e limpou várias gotas do líquido azul do canto do meu olho, onde começaram a acumular-se e a deslizar, escorrendo pelas minhas bochechas em forma de lágrimas.
Eu estava livre. Não havia sentença. Nem prisão. Nem um bonitão de fora do planeta.
— Vá para casa.
Eu não queria ir para casa. Eu não tinha casa. Nem trabalho, nem amigos e nem futuro. Visto que eu deveria ir para uma galáxia muito distante, as minhas contas bancárias tinham sido limpas, a minha casa vendida. Quando uma mulher é enviada para fora do planeta através do programa de noivas, os pertences dela são divididos como se ela tivesse morrido. Morrido e partido, para nunca mais voltar. Eu não tinha ninguém para declarar a minha torradeira ou o meu sofá velho, portanto, eu tinha que presumir que tudo seria doado para a caridade.
Eu era a primeira noiva a ser mandada para casa como se fosse um cão, com o rabo entre as pernas, indigna para um parceiro alienígena.
Se eu saísse pelas portas do centro de processamento e passeasse o meu rosto pela cidade? Bom, os idiotas que armaram essa cilada para mim enviariam os seus capangas para terminar o que começaram. Se eles soubessem que eu ainda estava na Terra, eu teria um preço pela minha cabeça dentro de algumas horas.
Mas, mais uma vez, eu não era uma princesa mimada. Eu tinha uma mochila de viagem, alguma roupa guardada e dinheiro que um amigo meu do serviço de inteligência internacional tinha me convencido de que era necessário para a minha sobrevivência. Graças a Deus que eu lhe dei ouvidos. Tudo o que eu tinha que fazer era recuperar a minha caixa de armazenamento da qual ninguém sabia e podia recomeçar. Eu estava livre. Sozinha. Miserável. E magoada. Mas livre para fazer o que eu queria fazer… como, por exemplo, expor um grupo de políticos e policiais corruptos.
Os malditos fraudulentos pensavam que eu tinha partido para fora do planeta. Que já não era problema deles. Talvez aquela fosse a única coisa boa que ia me acontecer hoje.
Eu balancei as minhas pernas para fora da maca e sorri, subitamente preenchida por uma alegria inesperada. Eu podia não ser boa o suficiente para um maldito alienígena, mas era bastante boa com uma lente teleobjetiva. Eu pensava nela como se fosse o meu estilo pessoal de espingarda. Uma imagem perfeita era todo o necessário para dar cabo de alguém, expor suas mentiras, arruinar suas vidas. Se a minha câmera era uma arma, então, eu tinha uma lista de quase um quilômetro de pessoas para abater. Se eu seria um fantasma enquanto o fazia, uma pessoa que nem era para estar na Terra, então, isso era ainda muito melhor.
Eu saltei para fora da maca, apertando o cobertor para que ficasse fechado ao meu redor, mas tive que repensar no movimento súbito que fiz quando senti a sala girar. Os braços da Guardiã Egara se lançaram para me segurar e eu acenei agradecendo.
Era hora de partir, mas havia uma coisa que o meu lado masoquista insistia em saber. Se eu ia deixar aqui nesta sala a minha oportunidade de sair do planeta, então, eu queria saber. — Qual era o nome dele?